O Bóton, história em quadrinhos recém-lançada aqui no Brasil pela Panini Comics, foca nas primeiras investigações do Batman e Flash a respeito do objeto de mesmo nome encontrado na Batcaverna em Universo DC: Renascimento. O bóton, como você que está lendo já deve saber, pertence ao Comediante, personagem de uma das mais aclamadas graphic novels de todos os tempos: Watchmen. Entre 1986 e 1987 a minissérie dividida em 12 edições, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, revolucionou o mundo dos quadrinhos. Durante anos ela foi tratada como intocável e sagrada para muitos dos fãs da nona arte. Em 2009, aproveitando o hype para a adaptação da obra para os cinemas, pelas mãos de Zack Snyder, a DC Comics decidiu “revirar o lixo” e contar novas aventuras desse universo, criando nesse período a conhecida minissérie Antes de Watchmen. Os prelúdios da obra original não foram muito bem aceitos por diversas pessoas, incluindo o próprio Moore.

Em 2016, investindo em uma nova reformulação de seu universo, a DC Comics decidiu novamente apostar em Watchmen e ligou a história do quadrinho ao seu universo regular. Um dos maiores conhecedores da mitologia da editora, Geoff Johns, ficou responsável pela história inicial envolvendo essa proposta, e conseguiu fazer um trabalho magistral. Meses se passaram, e as mensais envolvendo os personagens da DC só davam pequenas pistas a respeito dessa trama maior que cerca todo o Renascimento. Eis que em abril de 2017, quase um ano após a inicialização desse projeto, os Vigilantes de Moore voltaram a ter destaque, em um crossover ocorrido entre dois grandes personagens: Batman e Flash.

A missão de O Bóton era árdua. Tentar convencer o leitor de que a inserção de Watchmen ao universo regular realmente havia sido uma boa ideia, contar uma história interessante e que interligasse muitas coisas, e preparar o terreno para O Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock, no original), o mais novo grande evento do universo DC, que está sendo escrito por Geoff Johns e possuirá desenhos de Gary Frank. Como esperado, O Bóton não entrega muitas coisas, deixando várias perguntas ainda sem resposta, mas aproveita suas páginas para dar ao leitor um gostinho a mais do que está por vir.

Na história, o bóton do Comediante, que está em posse do Batman em sua Batcaverna, entra em contato com a máscara do Pirata Psíquico, personagem com um grandioso background no universo da editora, e que esteve presente em momentos importantíssimos ao longo da história (talvez tendo sua aparição mais memorável em Crise Nas Infinitas Terras, uma das mais icônicas mega sagas da DC Comics). Desse contato, uma espécie de fenda é aberta, fazendo com que o Flash-Reverso clássico, Eobard Thawne, volte a dar às caras nas histórias da editora, após o mesmo estar ausente desde a minissérie Flashpoint (que serviu de base para o reboot que aconteceu em 2011, chamado de Os Novos 52).

Com o retorno de Thawne, alguns diálogos ácidos acontecem entre o personagem e o Homem-Morcego, acarretando em uma pequena luta entre os dois. Posteriormente trocar umas farpas com o Batman, Flash-Reverso deixa sua ambição e curiosidade sobrepujar a razão, e pega o bóton misterioso para si. Desaparecendo durante alguns segundos, o personagem retorna completamente destruído e desfigurado. Derretendo sobre o que parece ser uma incrível energia azul, o vilão morre, mas tem tempo de falar (ou dar uma dica) sobre o que, ou quem, havia feito aquilo com ele.

“Deus. Eu vi… Deus.” – Flash-Reverso.

Chegando posteriormente aos acontecimentos, o Flash tenta entender a situação ao lado do Batman, que está bastante ferido devido ao embate contra Thawne, mas ainda possui sua genialidade auxiliadora. Partindo para a Torre de Vigilância, nosso querido velocista escarlate se prepara para utilizar mais uma vez a famosa esteira cósmica, responsável por abrir fendas temporais e/ou vibracionais, permitindo viagens de um mundo ao outro ou transições no tempo. Chegando pouco antes de Barry subir na esteira, Bruce insiste em seguir o amigo e ajudá-lo no que pretende fazer. Agora ambos os heróis viajarão por linhas do tempo e histórias alternativas, no intuito de entender o quem é o causador de tudo aquilo e o quais mistérios aquele bóton amarelo guarda.

A saga é dividida em quatro partes, que transitam entre Batman #21Flash #21Batman #22 e Flash #22Tom King é responsável pelas histórias presentes nas revistas do Homem-Morcego e Jason Fabok cuida da arte, enquanto Joshua Williamson escreve as mensais do velocista escarlate, contando com desenhos de Howard Porter. Em Batman #21, história que abre a minissérie, podemos perceber um cuidado extremo na montagem de algumas cenas e na colorização.

Alguns quadros são perfeitamente simétricos, emulando ou se inspirando no trabalho de Dave Gibbons na graphic novel da qual a história usa como base. Em algumas cenas, por exemplo, como o confronto entre Batman e o Flash-Reverso, a palheta de cores escolhida nos remete instantaneamente ao bóton de Edward Blake. Contra a luz, os corpos dos personagens ficam pretos, enquanto o fundo se transforma em amarelo e as rajadas de energia que acompanham os punhos de Reverso são vermelhas. Além disso, a trama lida muito com a questão do tempo, algo muito utilizado em Watchmen.

Bem, se você está lendo essa parte, já deve ter conferido a história, ou simplesmente não liga para spoilers. Pois bem, vamos lá! Após entrar no fluxo temporal, Batman e Flash acabam indo parar no universo de Flashpoint. Todo o arco que aborda Bruce Wayne encontrando seu pai, finalmente, é completamente lindo. Um grande encontro, pedido pelos fãs há anos. Não me decepcionou em momento algum, e confesso que cheguei até a me emocionar no diálogo final, do qual Thomas tenta convencer Bruce a abandonar o manto do Morcego. Jay Garrick aparecendo para salvar os personagens, perdidos na correnteza temporal foi uma ótima sacada. O personagem, após Barry não conseguir se lembrar dele como fez com Wally, é sugado de volta para o lugar de onde veio. Resta saber por que o Dr. Manhattan está fazendo isso com todos esses personagens. Falando nele, não é que o azulão deu às caras? Ou melhor, às mãos?

Sou obrigado a falar que me arrepiei com toda a sequência final, onde nosso querido John Osterman pega o bóton do Comediante, e os balões se remetem a uma de suas icônicas falas durante no capítulo IX da obra de Moore e Gibbons, recriando parte de seu diálogo com a Laurie. Não havia maneira melhor de acabar essa minissérie.

“Todos nós somos marionetes, Laurie. A diferença é que eu enxergo minhas cordas.” – Dr. Manhattan.

Sem falar em mais um jogo de cores que acontece na última página, revelando uma ligação direta de tudo aquilo com nosso querido Homem de Aço. Estou ansioso para ver como lidarão com o Superman nos próximos eventos.

A história pode ser lida separadamente, ou seja, não é necessário estar acompanhando as mensais de cada personagem para compreender a trama. Só que, ler pelo menos Universo DC: Renascimento é essencial. Enfim, esse pequeno evento não decepciona em nada e cumpre muito bem seu papel. Agora é contar os dias para finalmente conferirmos o que Geoff Johns irá aprontar em sua próxima história. O Relógio do Juízo Final deve chegar ao Brasil no fim de 2018.

O Bóton #01 até #04 (The Button #01 até #04 – EUA – 2017, DC Comics).
Roteiro: Tom King, Joshua Williamson. Arte: Jason Fabok, Howard Porter. Capas: Jason Fabok, Brad Anderson. Cores: Brad Anderson, Steve Wands. Editores originais: Mark Doyle, Amadeo Turturo.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!