Psicose é um clássico filme norte americano de 1960 dirigido por Alfred Hitchock. O longa, considerado por muitos como uma das melhores películas já feitas, é inspirado no romance de mesmo nome do autor Robert Bloch, lançado em 1959. Na trama, Norman Bates, vivido pelo excelentíssimo Anthony Perkins, sofre do Complexo de Édipo, um conceito introduzido e aprofundado por Freud, dentro da psicanálise. A história também ganhou uma série de televisão, chamada Bates Motel, que tornou-se um prelúdio contemporâneo para o filme de 1960.
Mas afinal, o que é o Complexo de Édipo? Este conceito refere-se a uma fase no desenvolvimento infantil em que existe uma “disputa” entre a criança e o progenitor do mesmo sexo pelo amor do progenitor do sexo oposto. Ou seja, o filho compete com o pai pelo amor de sua mãe; mas não o amor normal que existe entre mãe e filho, e sim o amor sexual, aquele que abrange um real relacionamento afetivo. Tal abordagem se enquadra apenas para a relação pai-mãe-filho, já que, para a relação pai-mãe-filha, existe o Complexo de Electra, que é basicamente a mesma coisa, porém fala sobre uma relação de amor da filha com pai.
Freud se apropria do mito de Édipo para formular sua ideia de que exista na relação da tríade, pai-mãe-filho, um desejo incestuoso da criança pela mãe e a interferência odiada do pai nessa relação. Assim, o Complexo de Édipo é uma formulação usada para explicar o desenvolvimento e a concepção sexual infantil. Freud também explica que, todas as crianças desenvolvem um amor pelo pai ou pela mãe durante a infância. E esse amor é moldado e completamente definido antes do início da adolescência. O “amor” das crianças com seus progenitores se torna algo sentimental, e não sexual. Porém, existem casos em que o filho desenvolve um amor sexual pela mãe, e é aí que a teoria do Complexo de Édipo pode ser entendida.
O mito de Édipo
Segundo a lenda grega, Laio, o rei de Tebas havia sido alertado pelo Oráculo de Delfos que uma maldição iria se concretizar: seu próprio filho o mataria, e se casaria com a própria mãe. Em decorrência de tal prefácio, ao nascer Édipo, Laio, tomado por um ciúmes descomunais do filho, abandonou-o no Monte Citerão, pregando de uma maneira vil um prego em cada um de seus pés, na tentativa de matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como Edipodos, da expressão “pés-furados”, que posteriormente foi adotado pelo rei de Corinto e voltou a Delfos. Um belo dia, Édipo consultou o Oráculo, que lhe deu a mesma previsão dada a Laio: ele mataria seu pai e desposaria sua própria mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, Édipo fugiu de Corinto às pressas, desesperado. No caminho, ele encontrou um homem e, sem saber que era seu pai verdadeiro, o matou, pois Laio mandou-o, de maneira grosseira, sair de seu caminho. Tempos depois de derrotar o homem, o destino o levou a casar-se com uma bela mulher, anos mais velha do que ele, não sabendo que se tratava da própria mãe biológica, tendo quatro filhos com ela. Novamente de volta à cidadela, Jocasta e Édipo descobriram, em uma nova consulta, que eram mãe e filho; ela cometeu suicídio e ele furou os próprios olhos, como uma punição por não ter reconhecido a própria mãe.
A personalidade de Norman Bates
Norman, desde pequeno, sempre foi muito apegado à sua mãe. Ele criou um vínculo muito forte com sua progenitora e desde cedo sofreu com problemas mentais. Às vezes, em momentos de nervosismo ou raiva, ele entra em transe, o que faz com que ele cometa alguma ação involuntária, como por exemplo matar uma pessoa.
Norman Bates e o Complexo de Édipo
Como foi mostrado na primeira temporada de Bates Motel, Norman matou o pai para defender sua mãe, após entrar em um de seus primeiros transes. Após os acontecimentos, Norma Bates, a mãe de Norman, ocultou isso do filho e do resto das pessoas; autoridades, familiares, vizinhos, ninguém nunca soube a verdade. Durante anos ele nunca soube, nem ao menos se lembrou, que foi o real culpado pelo assassinato do pai.
Mas como isso se enquadra no complexo teorizado por Freud? Norman venceu a disputa com seu progenitor do mesmo sexo, e finalmente agora Norma pertence somente a ele. Com o passar dos anos, Norman se aproximou cada vez mais da mãe, criando um vínculo forte e assustador, que crescia desenfreadamente com o passar do tempo, tanto por parte dele, quanto por parte dela. Uma espécie de paixão surgiu na cabeça do garoto, que percebeu que realmente amava a mãe, porém, de uma maneira muito diferente. Tanto é que, para acabar com toda a confusão que permeava seus pensamentos, ele acabou a matando.
Norman ligou a fornalha de sua casa e deixou que toda a fumaça fosse parar no quarto da mãe. Deitou-se com ela na cama de casal e adormeceu. O plano do protagonista era se matar junto com sua progenitora, entretanto tudo foi por água a baixo e apenas Norma acaba falecendo. Depois disso, por sofrer pela morte da mãe, e grande amor de sua vida, Norman começou a acreditar que parte da alma e memória de Norma ainda vivia… dentro dele. Ele guardou o corpo dela dentro de casa, e continuou limpando e cuidando do cadáver, a fim de sempre ter a companhia dela. Somado a isso, um transtorno dissociativo de identidade faz com que ele assuma a personalidade da sua mãe falecida, e se passe por ela. Tudo em decorrência de seus fortes transtornos mentais, e de personalidade, misturados com o complexo teorizado por Freud. Em sua própria mente, Norman se vê como Norma, e vice-versa; é como se ambos fossem a mesma pessoa.
Achou doentio? Pois saiba que existem pessoas que realmente sofrem do Complexo de Édipo na vida real. Elas não são como Norman, até porque ele é um personagem criado para ficção, mas estão espalhadas por aí. Para quem se interessar mais pelo assunto, aconselho que leiam o conto de Édipo original, lugar de onde Freud formou sua teoria, e claro, assistam Psicose, filme de 1960, dirigido por Alfred Hitchock, além da excepcional série Bates Motel.