Se Minha Cama Voasse (Bedknobs and Broomsticks) saiu da famosa Era Sombria da Disney, onde poucos dos seus live-actions e animações se tornaram memoráveis para o público. Tendo como base os livros The Magic Bed-Knob (1943) e Bonfires and Broomsticks (1945), o longa-metragem queria ser o que Mary Poppins (1964) foi para os anos 60. Tanto é que o diretor era o mesmo, os roteiristas eram os mesmos, o produtor era o mesmo, os compositores eram os mesmos, a direção de arte era a mesma, a orquestração era a mesma, e até os atores David Tomlinson (George Banks) e Reginald Owen (Almirante Boom) retornaram no elenco (Julie Andrews também foi convidada para estrelar, mas acabou recusando). Talvez pelo marketing não tão bom que deixava uma imagem de ser um derivado do filme de Robert Stevenson, ou por ter sido neste mesmo ano que saiu A Fantástica Fábrica de Chocolate, ou por não ter Walt Disney guiando o desenvolvimento do filme, Se Minha Cama Voasse é lembrado por alguns fãs e esquecido por muitos outros.

Walt possuía os direitos dos livros de Mary Norton muito antes de oficializar a compra das histórias de Mary Poppins. Acontece que as tramas eram similares, e Poppins era a prioridade do momento. Logo, Bedknobs and Broomsticks foi empurrado para um futuro próximo. Infelizmente, Walt morreu 5 anos antes do filme ser lançado. As críticas variavam de positivas a medianas, todavia não impediram Se Minha Cama Voasse de ser indicado aos Oscars de Melhor Canção, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhores Efeitos Visuais (vencedor) e Melhor Trilha Sonora Adaptada.

Magia e Nazistas fazem parte do plot deste filme, ambientado na Segunda Guerra Mundial. Ian Weighill, Cindy O’Callaghan e Roy Snart interpretam 3 irmãos órfãos chamados, respectivamente, Charlie, Carrie e Paul. Eles acabam por ser dados à guarda de Miss Price (Angela Lansbury), que é praticamente obrigada a cuidar das crianças. É rápido para eles descobrirem que Price é uma bruxa, porém um tanto quanto desastrada. Possuindo uma cama que pode levá-los para onde quiserem, e com a ajuda professor Emelius Browne (David Tomlinson), o quinteto corre atrás de um elemento que pode ajudá-los na guerra, pois o mesmo tem o poder de dar vida a qualquer tipo de objeto inanimado.

Apesar do desinteresse de Walt Disney (sim, você nunca imaginaria que um cara como Walt Disney estaria desinteressado para com um projeto), ele conseguiu ouvir algumas das músicas principais de Se Minha Cama Voasse, compostas pelos Irmãos Sherman. O mesmo também chegou a trabalhar algumas ideias com os roteiristas, pois havia a grande possibilidade de P.L Travers querer cancelar a adaptação de Mary Poppins. Portanto, caso acontecesse o pior, possivelmente seria este musical que vos falo a ganhar o título de “melhor live-action da Walt Disney Pictures”.

As comparações com o clássico musical da babá voadora são inevitáveis, mas podem relaxar. Não é uma simples cópia feita às coxas para vender dinheiro, mas também não é uma maravilha subestimada. As crianças possuem uma boa química juntos, mas não são tão bons quanto Karen DotriceMatthew Garber em Mary Poppins, e a história se apoia muito no charme de Angela Lansbury e de David Tomlinson. Este último, aliás, o melhor ator do filme. Facilmente adaptável em qualquer papel, Tomlinson saiu de um pai preocupado e piloto trapaceiro para um professor farsante, que não acredita no que ensinava: magica. Quanto aos antagonistas, o roteiro de Bill Walsh e Don DaGradi não criou um em específico. Inicialmente, pensamos que o vilão é Bookman (Sam Jaffe), que almeja o mesmo elemento que Price. Mas ele logo sai de cena e é substituído pelos nazistas. Um pouco decepcionante.

É visível que uma boa quantia de dinheiro foi apostada em Se Minha Cama Voasse. Os efeitos especiais são excelentes (destaque para os soldados alemães apanhando de armaduras possuídas), os personagens animados oriundos da Ilha de Naboombu são extremamente encantadores, e os cenários são mais um lindo trabalho do diretor de arte Peter Ellenshaw (um veterano dos estúdios Disney). Quanto às músicas, infelizmente não são tão marcantes quanto Mary Poppins. Sinto dizer isso, mas chegam a ser até esquecíveis e um pouco desnecessárias. A história parecia se encaminhar muito bem mesmo que o longa não fosse um musical.

OBS: o longa sofreu um processo de cortes, que removeram uma subtrama envolvendo o personagem de Roddy MacDowall (o eterno Cornelius de O Planeta dos Macacos) e três músicas, como Nobody’s Problem. Apesar disso, estas não parecem ser necessárias para o desenrolar da história. Isso deixou os Irmãos Sherman bem decepcionados.

Planejado como algo épico, Se Minha Cama Voasse fez 37,9 milhões. Não conseguiu superar outros filmes Disney como Se Meu Fusca Falasse, As Novas Aventuras do Fusca, A Família Robinson e não chegou nem perto da quantia de Mary Poppins. Agora, vocês sabem porque Fisherman BearKing Leonidas ou Mr. Codfish nunca apareceram no Walt Disney World ou em qualquer outro parque da Disney.

Existem exigências de fãs para que o estúdio crie um remake, e até Kevin Smith manifestou interesse neste considerado clássico desconhecido. Diria que há uma possibilidade de, se abraçarem a ideia, se tornar uma franquia de sucesso bem melhor que o original. Abra os olhos, Disney!

Se Minha Cama Voasse (Bedknobs and Broomsticks) – EUA, 1971, cor, 117 minutos. Direção: Robert Stevenson. Produção: Bill Walsh. Roteiro: Bill Walsh e Don DaGradi. Música: Richard M. Sherman, Robert M. Sherman e Irwin Kostal. Edição: Cotton Warburton. Cinematografia: Frank V. Phillips. Elenco: Angela Lansbury, David Tomlinson, Roddy McDowall, Sam Jaffe, John Ericson, Bruce Forsyth, Cindy O’Callaghan, Roy Snart, Ian Weighill, Tessie O’Shea, Arthur Gould-Porter, Ben Wrigley, Reginald Owen, Cyril Delevanti, Rick Traeger, Manfred Lating, John Orchard, Bob Holt, Lennie Weinrib e Dal McKennon.

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Sobre o Autor

Amo filmes, histórias em quadrinhos, livros e, principalmente, Fuscas.