George Lucas começou a escrever o roteiro desse terceiro longa antes mesmo da produção de Star Wars: Ataque dos Clones acabar. As filmagens de A Vingança dos Sith começaram em setembro de 2003, principalmente na Austrália, e com locações adicionais espalhadas pela Tailândia, Suíça, China, Itália e Reino Unido. O Episódio III estreou mundialmente em 19 de maio de 2005, arrecadando cerca de 840 milhões de dólares mundialmente, e recebeu avaliações positivas dos críticos, especialmente em contraste com as críticas menos favoráveis das prequências anteriores, recebendo elogios pelo seu enredo, visual, cenas de ação, trilha sonora, efeitos visuais, e performances de Ewan McGregor, Ian McDiarmid, Frank Oz e Samuel L. Jackson. A Vingança dos Sith foi o último filme da franquia ser distribuído pela 20th Century Fox, já que em 2012 os direitos da Lucasfilm (e, consequentemente de todas a saga) foram adquiridos pela Walt Disney Company.
O fim da liberdade na galáxia
O filme começa na épica batalha sobre Coruscant, três anos após o início das Guerras Clônicas, onde os Cavaleiros Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Anakin Skywalker (Hayden Christensen) lideram um resgate ao Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid), cativo dos Separatistas. Anakin e Obi-Wan lutam contra Darth Tyranus, vulgo Conde Dooku (Christopher Lee), líder separatista, que é decapitado por Anakin a mando de Palpatine, que mais tarde nos é revelado como Darth Sidious, mestre Sith de Tyranus que traiu seu aprendiz para substitui-lo por Anakin. Ao retornar da batalha, Skywalker descobre que sua esposa secreta, Padmé Amidala (Natalie Portman), a senadora de Naboo, está grávida. Logo depois Anakin começa ter sonhos de Padmé morrendo no parto e fica com medo de perdê-la, como havia perdido a sua mãe no filme anterior. Palpatine ganha poderes sobre a Ordem Jedi através do Senado, e indica Anakin para ser seu representante no Conselho Jedi; a contragosto, o Conselho aceita Anakin como seu membro, mas não o faz Mestre Jedi, para decepção de Anakin; eles lhe dão a missão de espionar o Chanceler, que deixa Anakin dividido entre sua amizade com Palpatine e lealdade aos Jedi. Começa aqui a sedução de Anakin para o Lado Sombrio, fazendo o personagem se desconfiar dos ensinamentos Jedi.
O Conselho Jedi despacha Obi-Wan Kenobi para para o planeta Utapau, após descobrirem que o líder do Exército Separatista, General Grievous (Matthew Wood), está escondido lá. Enquanto isto, Palpatine se revela a Anakin como o Lord Sith Darth Sidious e afirma que apenas o Lado Sombrio concentra poder para salvar Padmé. Após Anakin denunciá-lo, Mace Windu (Samuel L. Jackson) tenta prender Palpatine, mas Anakin chega na hora do duelo e interrompe a luta. Isso resulta na quebra do Código Jedi e contribui para queda definitiva de Anakin. Em seguida, Palpatine solta uma descarga de raios elétricos, matando Windu. Sidious rebatiza o jovem Skywalker como Darth Vader e lhe ordena a matar todos presentes no Templo Jedi, incluindo as crianças.
A Ordem 66, que marcará o grande expurgo Jedi, é repassada aos soldados clones do grande exército da República, que exterminam aproximadamente 10.000 Jedi pela Galáxia. Obi-Wan Kenobi e o Grão-Mestre Yoda (Frank Oz), que estava em Kashyyyk, planeta natal dos wookies, também sofrem atentados, mas conseguem sobreviver e constatam a traição de Anakin ao regressarem ao Templo. Sob ordens de Sidious, Vader vai para o sistema Mustafar, onde mata todos os líderes separatistas, incluindo o vice-rei da federação de comércio. Antes, despede-se de Amidala, prometendo um pronto regresso onde tudo terminaria bem. Sidious se reúne com o Senado Galáctico e, durante um emocionado discurso, transforma a República no Império Galáctico, do qual torna-se Imperador. Ele consegue isto acusando falsamente os Cavaleiros Jedi de uma suposta rebelião contra a República, e que por este motivo eles foram eliminados pelos soldados-clones, recebendo aplausos dos senadores, que lhe deram poder absoluto.
Obi-Wan revela a Padmé que seu marido converteu-se ao Lado Sombrio; incrédula, ela parte para Mustafar e entra em profunda tristeza ao notar a transformação de Anakin. Vader, ao ver Obi-Wan (que havia viajado na nave de Amidala escondido de todos), acredita que o seu ex-mestre veio junto com ela para matá-lo e sufoca sua amada em fúria. Obi-Wan o impede de continuar e entra em um selvagem duelo com Vader no planeta de lava. Yoda parte para Coruscant para matar o agora Imperador Palpatine, mas acaba falhando, precisando fugir. É resgatado pelo senador Bail Organa (Jimmy Smits), leal aos Jedi. Em Mustafar, Vader e Obi Wan travarão uma das batalhas mais épicas da história da galáxia, que definirá o futuro do universo.
O épico prelúdio
O terceiro capítulo dessa trilogia já começa com tudo. Em uma batalha simplesmente épica, com vários fighters e destroyers, nos é mostrado todo o ápice das Guerras Clônicas que estão atualmente acontecendo na galáxia. A sequencia inicial é primorosa e empolgante, a computação gráfica mostra uma evolução considerável com a mostrada nos filmes anteriores e, diferente dos Episódios I e II, aqui nos sentimos realmente dentro da guerra, preocupando com os personagens. Desde o início, a figura do Anakin é construída para nos mostrar quem realmente o personagem vai se tornar ao final do longa; e a cena dele decapitando o personagem de Christopher Lee é assustadoramente bem feita e conduzida. Aos poucos vemos sua sedução ao Lado Sombrio sendo feita e o espectador consegue comprar tudo aquilo, afinal, nada fica jogado. Ao final de toda a abertura temos, talvez, o primeiro momento badass do Anakin nessa trilogia, quando o personagem controla uma nave gigantesca com suas habilidades e consegue pousá-la sem esforços maiores.
George Lucas coloca no Episódio III várias justificativas para o jovem Skywalker render-se ao Lado Sombrio, ligadas à perda e à cobiça pelo poder. Assim como aconteceu em Ataque dos Clones, alguns pesadelos começam a atordoar a mente do personagem; no Episódio II, eles eram referentes à sua mãe, que, ao final de tudo, acabou falecendo. Aqui, Anakin tem pesadelos recorrentes envolvendo sua amada, Padmé, e teme que o mesmo que aconteceu à sua progenitora aconteça com a mulher que ama. Todo mundo teme perder alguém que gosta, ou que lhe faça bem, e, todo esse sentimento, em nós, público, é muito fácil de se relacionar e entender. O outro lado da moeda, que fará o jovem Skywalker abster-se do Lado Luminoso é a ambição em se tornar alguém muito poderoso. Durante toda a trilogia nos é falado que o personagem é alguém muito importante e forte na Força, o Escolhido, porém existem um certo o descaso por parte dos Jedi da Ordem dos Cavaleiros quanto a isso. Ele não se torna um sagrado mestre e nem sabe como reverter toda essa situação, isso acaba despertando em sua figura o desejo por poder, outro fator que é facilmente relacionável.
“O Lado Sombrio é o caminho para habilidades que muitos não consideram naturais.” – Palpatine.
Durante o progresso de sua influenciação, temos uma cena memorável, junto com o personagem de Ian McDiarmid, onde Palpatine conta a Anakin o conto de Darth Plagueis, o Sábio. Toda a passagem é surpreendente e impressionante, e ambos os atores arrasam, nos entregando belíssimas atuações. Talvez esse tenha sido o estopim para que o personagem de Hayden Christensen tomar sua decisão, pois toda a conversa se dá ao fato da morte poder ser manipulada, controlada ou impedida pelos seres de poder extremo.
Palpatine: “É irônico. Ele [Darth Plagueis] podia evitar a morte dos outros, mas não a própria.”
Anakin: “É possível aprender esse poder?”
Palpatine: “Não como um Jedi.”
Palpatine, como todo o seu ar manipulador, coloca na cabeça do confuso e perdido Anakin que os Jedi querem tomar o controle da república, como uma espécie de milícia. Todas as falas e persuasões do personagem de Ian McDiarmid levam o jovem Skywalker ao impensável: ele perde a fé na Ordem Jedi e começa a repugná-los. Posteriormente, Anakin se entrega completamente ao lorde Sith, quando Mace Windu, acompanhado de mais alguns Jedi, atacam Palpatine com a intensão de feri-lo ou matá-lo. O Jedi acusa Windu da quebra do Código Jedi, quando o mestre está prestes a matar o Sith, e por vez toma sua decisão. Os Jedi, em sua cabeça, não eram nada do que ele imaginava. A partir daí, é colocada em prática a citada e famosa Ordem 66, que causará o Grande Expurgo Jedi. A cena em si, da execução da Ordem, é um deleite à parte; tudo é muito lindo e bem filmado, além de ter todo um ar de tristeza. Entrecortando com as cenas do “trabalho sujo” feito pelo Exército Clones e pelo Anakin, nos é mostrado a formação do famigerado Império Galático.
“Então é assim que a liberdade morre… com um estrondoso aplauso!” – Padmé Amidala.
Seguindo isso, temos a tão aguardada batalha final. Ewan McGregor e Hayden Christensen protagonizam uma das cenas mais marcantes de toda a franquia, uma linda luta de sabres de luz no planeta de Mustafar. O grande combate entre amigos, quase irmãos, onde nenhum dos dois, no fundo, gostaria de estar fazendo aquilo. O embate, em si, é visualmente lindo, um real deleite visual, porém possui alguns momentos repetitivos, devido à alta quantidade de movimentos coreografados que não inovam muito entre si. Mas, ainda assim, é uma cena memorável e um ponto importantíssimo na jornada desses dois icônicos personagens. Mestre e aprendiz duelam juntos, pela primeira vez. O seu desfecho não é surpreendente, claro, pois já sabíamos quem venceria e o que aconteceria, mas ver como tudo acontece é um brilho para os olhos dos espectadores. Uma épica batalha, para um épico filme.
“Você era o Escolhido! Foi dito que você iria destruir os Sith, não se juntar a eles! Iria trazer o equilíbrio à Força, não jogá-la nas trevas! Você era o meu irmão, Anakin. Eu amava você.” – Obi-Wan Kenobi.
Sobre as partes técnicas: Ewan McGregor novamente arrebenta como Obi-Wan, assim como Natalie Portman faz mais um bom trabalho como a proativa Rainha Amidala. Hayden Christensen mostra uma evolução e um crescimento considerável, mas ainda assim fica longe de nos mostrar uma atuação 100% boa. Ian McDiarmid, como sempre, é imponente e amedrontador, remetendo algumas de suas atitudes diretamente ao Episódio VI. Samuel L. Jackson e Frank Oz ganham mais espaço e agora, finalmente, tem um tempinho de tela para brilhar. O Yoda de Oz é muito mais reflexivo e autoconhecedor da Força, como realmente deveria ter sido nos capítulos anteriores dessa trilogia. Anthony Daniels e Kenny Baker retornam como C-3PO e R2-D2 respectivamente, mas dessa vez estão mais para o lado do fanservice do que qualquer outra coisa. Falando em fanservice, quem dá às caras também é o wookie mais amado da galáxia; Chewbacca possui um rápido cameo, e faz o coração de muitos fãs palpitar com seus poucos segundos em tela.
Falar da trilha sonora de Star Wars é chover no molhado. John Williams nos presenteia dessa vez com a icônica Battle of the Heroes, que se tornou, sem dúvidas, uma das faixas mais memoráveis de toda a franquia. O astuto compositor inova, sem perder a essência. É notável a quantidade de pessoas que ficaram decepcionadas com essa segunda trilogia, já que a mesma possui uma quantidade considerável de defeitos e coisas que foram longe demais, mas não podemos tirar seu mérito de ter sido a porta de entrada para diversos novos fãs. Eu, por exemplo, reconheço todos os seus defeitos, e, sinceramente, aprendi a conviver e até mesmo gostar de alguns deles. Fato é que, se não fosse essa trilogia prelúdio, talvez eu nunca tivesse conhecido Star Wars e, talvez, a saga não tivesse tantos fãs quanto tem hoje.
A Vingança dos Sith, sem dúvida, é um dos meus filmes prediletos da franquia, e de todos os tempos, morando no meu coração, porém ele não escapa dos problemas. A película, em certos momentos, apela para diálogos ruins e toscos, e novamente aposta cegamente em personagens coadjuvantes sem muito carisma. Mas, no geral, o filme funciona e possui uma história interessante. George Lucas mostra uma evolução notável dos dois capítulos anteriores aqui, na história, no visual, e até mesmo na utilização exagerada de computação gráfica; como se, lá no fundo, aquele velho e criativo diretor estivesse mostrando que ainda existe.
Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith (Star Wars – Episode III: Revenge of the Sith) – EUA, 2005, cor, 140 minutos.
Direção: George Lucas. Roteiro: George Lucas. Produção: Rick McCallum. Música: John Williams. Cinematografia: David Tattersall. Elenco: Ewan McGregor, Natalie Portman, Hayden Christensen, Ian McDiarmid, Ahmed Best, Samuel L. Jackson, Christopher Lee, Anthony Daniels, Kenny Baker, Frank Oz, Jimmy Smits, Matthew Wood, etc.