Com o grandioso e inesperado mega-sucesso de Star Wars: Uma Nova Esperança, em 1977, o mundo do entretenimento estava completamente louco para conhecer os outros capítulos da história que George Lucas estava disposto a contar. No natal do ano seguinte, Lucas juntou forças com Steve BinderDavid Acomba para produzir um telefilme, focado nos heróis da película de sucesso, chamado Star Wars: The Holiday Special (algo como Star Wars: O Especial do Dia da Vida, em português). Na trama, Chewbacca convida seus amigos para irem até seu planeta natal, Kashyyyky, visitar sua família, para que todos pudessem celebrar o Dia da Vida wookie. O enredo é amarrado junto com uma série de números musicais, apresentações de celebridades, e outros diversos ato-shows, incluindo canções e rotinas de comédia por celebridades dos anos 70. O telefilme teve uma produção da Smith-Hemion Productions, que eram conhecidos por fazerem especiais de televisão de alta qualidade. Diferente do filme que chegou aos cinemas, Holiday Special foi um desastre e até hoje é desconsiderado por todo mundo, ficando fora do cânone e do coração dos fãs (até a Disney, detentora dos atuais direitos da franquia, o ignora).

Para a sequência de seu filme de sucesso, George Lucas contratou a escritora de ficção-científica e roteirista Leigh Brackett, para transformar em roteiro todas as suas ideias, concebidas antes mesmo de Uma Nova Esperança sair do papel. No final de 1977, por uma semana, os dois discutiram a história durante várias reuniões e ela, a partir daí, começou a fazer seu esboço. Quando o script da roteirista ficou pronto, em 1978, Lucas não escondeu sua decepção. As ideias que ela colocou no papel iam em outra direção das ideias do criador da saga; pouco tempo depois, Leigh Brackett veio a falecer, vítima de câncer. Com nenhum escritor disponível, Lucas teve que começar a escrever o seu esboço sozinho; foi aí que o diretor usou pela primeira vez a palavra “episódio” para a numeração dos filmes; O Império Contra-Ataca, inicialmente foi listado como Episódio II.

Depois de escrever e reescrever a trama de O Império Contra-Ataca, tirando a história do seu mundaréu de anotações pré-Uma Nova Esperança, Lucas avaliou uma nova história que havia criado: Anakin Skywalker era aluno brilhante de Ben Kenobi e teve um filho chamado Luke, mas foi influenciado para o lado sombrio pelo então Imperador Palpatine (que era um lorde Sith). Anakin lutou com Ben Kenobi em um vulcão e foi ferido, mas depois ressuscitou como Darth Vader. Enquanto isso Kenobi escondeu Luke em Tatooine, enquanto a República se tornou o Império e Vader sistematicamente perseguiu e matou os Jedi (história contada posteriormente na trilogia prelúdio). Lawrence Kasdan, que tinha acabado de escrever o roteiro de Caçadores da Arca Perdida, o primeiro Indiana Jones, uma parceria de George Lucas e Steven Spielberg, foi então contratado para escrever os próximos rascunhos, que também teve colaboração do diretor do longa, Irvin Kershner. Kasdan, Kershner e o produtor da aventura, Gary Kurtz, viram a sequência de Guerra Nas Estrelas como um filme mais sério e adulto, graças ao novo enredo, mais escuro, e desenvolveu a série a partir das raízes de aventura leve do primeiro filme.

George Lucas optou pela contratação de Irvin Kershner como diretor da película devido aos inúmeros estresses que sofreu duranta a produção do primeiro longa. Um fato curioso é que Kershner foi um dos professores de Lucas durante seu curso de cinema na faculdade; o diretor, que era famoso por fazer filmes mais dramáticos e por desenvolver bem personagens ficou receoso de assumir o projeto inicialmente, mas aceitou sentar na cadeira da direção tempos depois, após ter a certeza que essa sequência não seria apenas um repeteco do primeiro filme. Além disso, para que não sofresse com interferências do estúdio, Lucas optou por financiar o filme do próprio bolso, com parte dos lucros obtidos com o primeiro capítulo da história. Entretanto, aqueles que pensam que o então criador da história teve mais sossego durante a realização desse segundo longa, se engana. Com o sucesso de Uma Nova Esperança, Lucas teve uma missão árdua para conseguir agradar a imensa legião de fãs que a saga acumulou. As pessoas estavam malucas e já eram devotas das aventuras dessa galáxia muito, muito distante. Com total controle criativo, George pediu que a FOX apenas fizesse a distribuição do longa.

Em 1980, três anos depois da primeira aventura, chegava aos cinemas a continuação de Star Wars, O Império Contra-Ataca. Essa sequência, sem dúvida, é um filme muito mais pessoal que o primeiro. Com Irvin Kershner ocupando a cadeira de diretor, o segundo filme da saga mais adorada do mundo possuiu um vasto e competente desenvolvimento de personagens e uma trama escancaradamente mais complexa. A história foi dividida em arcos e cada um de seus protagonistas foi explorado com perfeição. Luke possui seu arco de treinamento, assim como Vader remoa os acontecimentos da Batalha de Yavin e projeta sua vingança, a relação entre Han e Leia é levada a um outro patamar, onde ambos os personagens vivem um romance esquisito, dentre muitas outras coisas. O Império Contra-Ataca é também visualmente mais espetacular; com mais investimento e carinho de produção, a sequência de Uma Nova Esperança é mais robusta e cheia de detalhes. É assustador pararmos para rever a película atualmente, pois, sem brincadeira alguma, ela não parece ter envelhecido um só dia. Tudo é, até hoje, muito bonito e bem feito.

O sábio, o mal e a Força

Três anos após a destruição da Estrela da Morte, a Aliança Rebelde continua fugindo da ameaça do Império Galático, que manda sondas espiãs por toda a galáxia em busca dos rebeldes. Uma das sondas vai para o planeta gelado de Hoth, onde a Aliança Rebelde montou a base Echo. Han Solo (Harrison Ford) planeja partir para pagar o dinheiro que deve ao gangster Jabba the Hutt, embora tenha sentimentos pela Princesa Leia (Carrie Fisher), que nega gostar dele. Após uma ofensiva (visualmente espetacular e bem filmada) comandada pelo Império, perante o planeta de neve em que os rebeldes estão se iniciar, Luke Skywalker (Mark Hamill) lidera o esquadrão de pilotos Rogue e derrota os agentes do mal. Enquanto a defensiva rebelde foge às pressas e se espalham pelo universo, Luke vai para Dagobah, um planeta pantanoso e fora do eixo principal interplanetário, à procura de um antigo e poderoso mestre Jedi, Yoda (Frank Oz), auxiliado por uma visão de Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness), seu antigo amigo e mestre, pouco antes da batalha gelada. Enquanto isso, a millenium falcon, que hospeda, além de Solo e Leia, Chewbacca (Peter Mayhew), R2-D2 (Kenny Baker) e C-3PO (Anthony Daniels), é atacada por destroyers imperiais, sendo perseguidos por Darth Vader (David Prowse, com voz de James Earl Jones), que os quer por serem próximos a Skywalker. Mesmo perdendo muitos homens, Vader não vai desistir, já que, seu mestre, o poderoso Imperador, não dá a ele essa opção.

Chagando em Dagobah, Luke é surpreendido por um alienígena verde muito pequeno e velho, que quer ajudá-lo a encontrar Yoda e o leva a sua casa em uma árvore. Lá, eles entram em contato com o espírito de Obi-Wan, e o homenzinho verde e frágil se revela como mestre que Luke tanto procura (o maior mestre Jedi que já existiu e o último que restou), que aceita treinar Luke e lhe ensinar os caminhos da Força. Interessante ver como Yoda parece ser real, por mais que seja feito por um boneco, além de ser visualmente frágil para um ser tão poderoso. Cá entre nós, seria uma decisão muito fácil de George Lucas colocar um novo mestre Jedi ao estilo de Obi-Wan Kenobi nessa nova aventura, um ser poderoso incrível, que esbanjava imponência. Mas não, o Yoda é o completo oposto disso tudo. Ele é velho, pequeno, frágil, engraçado, esquisito e, de primeira vista, todos o menosprezam; mas por trás dessa grande camada de desconfianças, existe o mestre Jedi mais poderoso que a galáxia já viu. E isso, pessoal, torna o personagem fascinante.

Yoda: “Pra você, tudo impossível é. Não ouve o que digo eu?”
Luke: “Mestre, levitar pedras é uma coisa. Isso é totalmente diferente!”
Yoda: “Não. Não diferente é. Só é diferente em sua mente. Você diz aprender o que aprendeu.”
Luke: “Está certo. Eu vou tentar.”
Yoda: “Não. Tentar, não. Faça, ou não faça. Tentativa não há.”

Conceber a figura física do Yoda foi um desafio e tanto para os encarregados pela película porque, se pararmos pra pensar, ele era praticamente um fantoche, e se isso não desse certo, metade do filme já iria por água abaixo, comprometendo a outra metade. Stuart Freeborn foi o homem responsável por pensar na figura do personagem e esculpi-lo, assim como já havia feito com Chewbacca e Jabba the Hutt. O designer teve a incrível ideia de desenhar o próprio rosto e mesclar com alguns elementos da aparência de Albert Einstein para conceber o pequeno mestre Jedi.

Luke: “Eu não… Eu não posso acreditar.
Yoda: “É por isso que você falha.”

Luke Skywalker agora receberia o treinamento necessário, conheceria de vez os caminhos da Força, para que pudesse finalmente se preparar adequadamente e enfrentar o mal. Luke, dessa vez, teria a árdua missão de confrontar aquele que pensa ser Darth Vader, o perverso e poderoso ser, que na verdade é a sombra de uma figura muito importante em sua vida. Durante seu treinamento em Dagobah, Luke mata a figura vilanesca em uma batalha delirante e vê que o rosto do homem mecânico é, na verdade, o seu próprio rosto. Impossível não perceber o quanto a relação entre Luke e Vader foi bem construída no decorrer do filme, para que a revelação que aconteceria ao final da película transparecesse realidade e não fosse simplesmente jogada na cara do espectador.

A derrocada rebelde

Após escaparem da perseguição imperial, os tripulantes da millennium falcon vão para a Cidade das Nuvens, localizada no planeta Bespin, buscando refúgio. Lá, Han Solo reencontra um velho amigo, Lando Calrissian (Billy Dee Williams), a quem pede ajuda para o conserto de sua nave. Porém, indo contra todos os planos do personagem e sua trupe, e do espectador, Lando trai Solo e o entrega para o Império (as tropas malignas haviam chegado ao planeta antes do grupo rebelde). Os Rebeldes estavam sem saída e todos esses acontecimentos poderiam ocasionar sua derrocada. Então, Luke, que ainda estava em Dagobah treinando com Yoda, tem um pressentimento e parte do planeta pantanoso indo à procura de Han, Leia, Chewie, C-3PO e R2-D2. Skywalker havia treinado bastante, mas ainda não estava realmente pronto para encarar seu destino, não estava totalmente preparado para ficar cara à cara com Vader; mas mesmo assim, o teimoso garoto não pensou duas vezes, ele tinha que ajudar seus amigos.

Em Bespin temos uma presença constante de Boba Fett (Jeremy Bulloch), um caçador de recompensas que aparece durante segundos desde Uma Nova Esperança, mas que ainda não tinha mostrado a que veio. O personagem, embora entre mudo e saia calado, tem uma importância ao longo da história, já que será o responsável por capturar Solo e o levar até Jabba. O personagem de Harrison Ford é congelado em carbonita por Vader e seu exército e levado por Fett; durante essa cena, temos um dos diálogos mais conhecidos da franquia (e do cinema em geral), onde Leia finalmente se declara para Han e o mesmo diz apenas “eu sei”. É, pessoal, mais um dos diálogos memoráveis desse filme.

“Havia um terrível homem vestido de preto empunhando um sabre de luz vermelho. Sua face estava coberta por uma máscara, moldada aproximadamente como um rosto humano. Mas os olhos da máscara estavam vazios e mortos. O homem com o sabre de luz vermelho colidiu contra um feixe de luz azul. Um jovem com cabelos loiros empunhou seu próprio sabre de luz e lutou furiosamente contra o monstro de preto.” – Descrição de uma das cenas deletadas de O Despertar da Força, durante a visão da Rey.

O embate final do filme possuía uma carga dramática ímpar. Luke não sabia quem o monstro de preto era, porém a figura maligna tinha certeza de quem o garoto se tratava. Vader optou por duelar contra o pequeno Skywalker pessoalmente, para tentar, quem sabe, trazer o garoto para seu lado. O duelo, além de ser visualmente incrível, possui uma produção impecável. De um lado, um jovem guerreiro, muito poderoso na Força, porém ainda inexperiente, do outro havia um velho e experiente usuário da Força, mais poderoso ainda. Vader luta durante toda a batalha sem perder a postura ou elegância, sempre imponente a figura trevosa duela e esgota Skywalker, fazendo-o chegar ao limite de suas habilidades. Ele, realmente, não estava pronto para aquela batalha. No ato final, Vader corta a mão de Luke, fazendo-o perder, além do membro, seu sabre de luz. Em seguida, o lorde negro dos Sith faz a grande revelação, que iria contra tudo o que o garoto pensava sobre si e definiria o futuro de toda a galáxia. Vader é Anakin Skywalker, pai de Luke.

Em um ato impensável, Luke rejeita se juntar a Vader no lado sombrio e se joga da estação, no que poderia ser seu último ato. O herói prefere morrer do que se render ao mal e isso dá ao personagem um ar de nobreza. No chão, agora os Rebeldes terão de juntar forças e encontrar algum meio de vencer o Império, no intuito de devolver a todo cidadão da galáxia sua tão sonhada liberdade. O retorno dos Jedi se aproxima.

O Império Contra-Ataca é visto por muitos fãs, inclusive por esse que vos escreve, como o melhor filme de toda a saga criada por George Lucas. Pelo menos para mim, a película é frenética e prende o espectador do início ao fim; sem falar que, na aventura, os mocinhos perdem no final, e eu simplesmente adoro quando o mal prevalece (até porque, o lado sombrio é muito mais legal que o lado luminoso). É uma jornada de superação e desenvolvimento. O primeiro é uma aventura, o segundo uma jornada de aprendizado e o terceiro é a conclusão de tudo, a condecoração que acontece devido ao mérito conquistado. A direção de Irvin Kershner fascina e impressiona, sem dúvidas (talvez devido à sua maior experiência) ele possui uma competência maior para extrair dos atores uma melhor performance. Lawrence Kasdan consegue montar uma história coerente à partir dos rascunhos de George Lucas e nos entrega um roteiro redondo e muito bem feito. A fotografia do filme encanta e os efeitos permanecem vivos até os dias de hoje, lindos, impecáveis.

Sem dúvidas é uma história mais sombria que a do primeiro filme, em decorrência disso os atores deveriam ter um comportamento mais dramático. Mark Hamill mostra uma enorme evolução de sua performance e nos entrega um Luke mais maduro e seguro de si, e suas cenas ao lado de Frank Oz são um deleite à parte. A voz que dá vida ao Yoda cria uma personalidade incrivelmente peculiar ao personagem, distanciando-o do conceito de mestre Jedi estabelecido por Alec Guinness na aventura pregressa; fala as coisas ao contrário e até seus trejeitos cativam. Harrison Ford manda novamente muito bem, e toda a sua relação com Carrie Fisher, construída aos poucos, evolui de forma orgânica; no fundo, nós sabemos que os dois se gostam, mas não dizem isso (até que, ao final do filme, Leia se declara). Billy Dee Williams faz uma boa estréia e seu personagem se mostra em uma crescente importância; guarda muitos segredos, que talvez nem precisam ser contados, já que vivem apenas no imaginário dos fãs. Kenny Baker, Anthony Daniels e Peter Mayhew fazem novamente bons alívios cômicos, embora ambos não sejam tão aproveitados durante o longa, estão lá para serem engraçadinhos e dar uma respirada gostosa no espectador ao longo do crescente drama apresentado no filme. A trilha de John Williams está novamente espetacular, já que acrescenta à trama novas temas icônicas, incluindo a famosa Marcha Imperial, faixa destinada a Darth Vader. Dá pra acreditar que a Marcha Imperial não estava presente em Uma Nova Esperança? Enfim, O Império Contra-Ataca cumpre bem o seu papel e se mostra muito mais que um repeteco do primeiro filme, como costumam ser a maioria das continuações. É um segundo/quinto capítulo perfeito para essa que se tornou a franquia mais adorada de todo o mundo.

O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back); renomeado para Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca (Star Wars – Episode V: The Empire Strikes Back) – EUA, 1980, cor, 124 minutos.
Direção: Irvin Kershner. Roteiro: Leigh Brackett e Lawrence Kasdan. História: George Lucas. Produção: Gary Kurtz. Música: John Williams. Cinematografia: Peter Suschitzky. Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Frank Oz, Billy Dee Williams, Alec Guinness, Kenny Baker, Anthony Daniels, David Prowse, Peter Mayhew, etc.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!