Iron Maiden é uma banda britânica de heavy metal formada por Steve Harris no natal de 1975, após ele ter se desentendido com o seu antigo grupo, Smiler, cujos integrantes consideravam suas composições “complicadas demais”. A banda teve seus primeiros lançamentos de demos e eps a partir de 1978 e seu álbum de estréia lançado em 1980. No começo, com o vocalista Paul Di’Anno (que era um grande fã de bandas punk), o som do Maiden era um heavy metal bem cru, com músicas curtas, simples e diretas. A partir da saída de Di’Anno e a entrada de Bruce Dickinson, o grupo passou por um enorme amadurecimento em seu estilo e finalmente as coisas começaram a sair do jeito que Steve Harris sempre quis: com composições complexas.

A banda foi uma das pioneiras do movimento NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal, em português, Nova Onda do Heavy Metal Britânico), uma das responsáveis por disseminar o heavy metal pelo mundo, influenciaram uma infinidade de outras bandas que surgiriam posteriormente, e hoje são um dos grupos mais famosos e bem sucedidos da história do rock. O estilo deles é inconfundível, com suas composições cuidadosamente elaboradas, o vocal limpo e operístico de Dickinson, letras inteligentes que geralmente abordam temas históricos, filosóficos, literários e cinematográficos, e claro, o icônico e carismático mascote Eddie the Head, são alguns dos elementos que fazem com que o Iron Maiden seja a banda favorita de uma enorme parcela de metaleiros ao redor do mundo (que inclui este que vos escreve).

Nos seus mais de 40 anos de carreira a banda lançou 16 álbuns de estúdio, e nesse post, listarei seus dez melhores trabalhos. Lembrando que, em uma tema como este não há verdades absolutas, o critério utilizado para a escolha dos itens e para a ordem de colocação foi apenas a minha opinião pessoal. Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

#10 – The Book Of Souls (2015)

Muitos dizem que se uma banda já tem mais de 30 anos de carreira, deveria parar de tentar fazer coisas novas, e na grande maioria das vezes essa afirmação está correta, mas definitivamente não é o caso do Iron Maiden. O The Book Of Souls é o seu álbum mais recente e o primeiro a ser lançado pela Parlophone Records, gravadora que eles haviam assinado em 2013 após o fim da EMI Music, pela qual haviam lançado todos os seus álbuns até então. Com uma excelente campanha de marketing, o Book estava sendo ansiosamente aguardado pelos fãs, ao mesmo tempo que causava algumas preocupações também, afinal, os dois álbuns anteriores não agradaram a todos e Bruce Dickinson estava passando por um tratamento de câncer de língua. Mas no fim tudo deu certo, Bruce se livrou do câncer e está cantando melhor do que nunca, e o álbum foi extraordinário, conseguiu aclamação da crítica, se tornou extremamente popular entre os fãs e foi um sucesso absoluto de vendas, ficando em 1° lugar em mais de 24 países.

The Book Of Souls começa com o pé direito em sua genial faixa de abertura If Eternity Should Fail, que já se tornou um clássico moderno do Iron Maiden, uma música que faz jus à tudo o que eles são, que canaliza toda a essência do som deles ao mesmo tempo que se permite experimentar algumas coisas novas (vide a inusitada introdução e o imprevisível encerramento). Speed Of Light, outra canção que respeita as raízes da música deles e remete diretamente às faixas potentes do Piece Of Mind, caiu rapidamente nas graças do público ao ter sido previamente lançada como single em um videoclipe divertidíssimo. The Great Unknown é bacana, mas não se destaca, acaba ficando meio apagada no meio das demais. The Red And The Black veio para tomar o posto até então pertencente a Rime Of The Ancient Mariner de “música mais longa do Iron Maiden”, contudo, apesar de ser excelente, não tinha necessidade de ser tão longa. When The River Runs Deep é ótima: curta, simples, memorável e cativante. A faixa-título The Book Of Souls é brilhante e encerra o CD 1 com chave de ouro. O CD 2 já chega com os dois pés na porta na forma da imponente Death Or Glory, acaba se desviando em Shadows Of The Valley, a faixa mais fraca do álbum (na introdução da música eles pegaram o riff de Wasted Years e o deixaram mais lento, plagiaram a si mesmos na cara dura), se recupera na comovente Tears Of A Clown, decai de novo em The Man Of Sorrows (a música Man Of Sorrows da carreira solo do Bruce Dickinson dá de 10 a 0 nessa), mas no fim tudo vale a pena com a impecavelmente primorosa obra de arte Empire Of The Clouds, que não é apenas a melhor música do álbum, é a melhor música do Iron Maiden lançada nesse século! A moderna Rime Of The Ancient Mariner é a faixa mais longa da banda (o recorde de The Red And The Black não durou nada), com seus 18 minutos de duração que valerão cada segundo do tempo que você dedicar a apreciar essa obra-prima maravilhosa!

#9 – Dance Of Death (2003)

Não se deixem enganar por essa capa horrorosa (que o próprio ilustrador responsável preferiu não ser creditado e que Bruce Dickinson se refere como “embaraçosa”), eu garanto para vocês que ela não condiz em absolutamente nada com a excelência de suas músicas. Embora alguns digam que ele não corresponde à qualidade de seu predecessor (falarei dele no próximo tópico), o Dance Of Death foi muito elogiado, tanto pela crítica quanto pelos fãs, justamente por provar que o Iron Maiden é indiscutivelmente uma banda que sobreviveu ao tempo, descrito pelo Allmusic como “um retorno triunfante à boa forma das lendas do heavy metal“. A revista Popmatters afirmou que “mesmo sendo uma banda que está na ativa há muito tempo, eles ainda são muito hábeis e conseguem ultrapassar com facilidade a maioria das jovens bandas de nu metal de hoje em dia“, bem, 15 anos se passaram e essa afirmação continua verdadeira.

As duas primeiras faixas, Wildest Dreams e Rainmaker, são ótimas pra aquecer: curtas, objetivas e marcantes. No More Lies é mais longa e com várias mudanças de ritmo, apesar de ótima, é um pouco repetitiva e enjoa fácil, boa pra ouvir só de vez em quando. Montsegur é um dos grandes destaques: uma música forte, potente, e imponente. A faixa-título Dance Of Death é uma verdadeira obra de arte, que faz um ótimo uso de todos os seus oito minutos e trinta e seis segundos de duração. Inspirada pelo filme O Sétimo Selo, do famoso cineasta sueco Ingmar Bergman, a música tem uma das melodias mais bonitas já feitas pelo Maiden: lenta e melancólica, parecendo até uma cantiga trovadoresca, a canção vai gradativamente se tornando mais agitada de forma muito natural, aliada a uma letra poética que a torna ainda mais brilhante. Gates Of Tomorrow é a mais fraca, boa música, mas meio artificial, não tem muito da essência da banda. New Frontier, de todas essas faixas que são mais curtas, simples, rápidas e agitadas, é a melhor. A primeira música a ser composta pelo baterista Nicko McBrain tem um ritmo dinâmico e um refrão muito legal, além de uma letra profunda que fala a respeito de engenharia genética e criação de vida artificial. Passchendale é épica, sem sombra de dúvidas a melhor do álbum, chamada por muitos críticos de “a obra-prima do Iron Maiden”. Antes de terem lançado Empire Of The Clouds eu a considerava como a melhor música deles desse século. Grandiosa e imersiva, é uma daquelas canções que você não ouve, você sente. Face In The Sand e Age Of Innocence vêm para acalmar os ânimos, são faixas mais lentas, tranquilas e suaves. Por fim, Journeyman, a primeira – e até agora, única – música deles inteiramente acústica, assim como as duas anteriores, é uma canção mais “light“, com uma melodia muito bonita e um refrão tocante, que traz um ótimo desfecho para um ótimo álbum.

#8 – Brave New World (2000)

Brave New World é um divisor de águas na carreira do Iron Maiden. Após dois álbuns decepcionantes com Blaze Bayley no vocal, eles deram a volta por cima com o retorno triunfal de Bruce Dickinson e Adrian Smith e a entrada de Janick Gers, sendo esse o primeiro álbum deles com três guitarras e formação em sexteto (que se mantém até hoje), além disso, foi também a despedida do ilustrador Derek Riggs (que havia sido o responsável pelas artes nas capas de todos os álbuns até então). No Brave New World, eles mantiveram o estilo prog metal que haviam experimentado nos álbuns anteriores, ao mesmo tempo que retornaram ao heavy metal tradicional de seus anos dourados, misturando o melhor dos dois mundos e permitindo um reinvenção que respeita o passado e abraça o futuro, que consegue ser inovador sem fugir da essência e ser old school sem parecer datado, nos apresentando a um Iron Maiden apto a sobreviver ao novo milênio. 

O álbum já começa com tudo em The Wicker Man, uma faixa rápida, direta e que fica cravada na sua memória logo na primeira vez que você a escuta, não é à toa que foi um dos maiores sucessos do álbum, tendo inclusive uma indicação ao Grammy. Ghost Of The Navigator não é apenas a melhor música do Brave New World, é uma das melhores músicas da carreira da banda em geral, alcançou um sucesso gigantesco e foi considerada como um dos maiores clássicos do Metal do século XXI. A faixa-título Brave New World foi mais um troféu para a coleção deles, o grande acerto dela é a forma como concilia leveza e harmonia com peso e velocidade, acompanhada de uma letra pessimista baseada no livro homônimo do escritor Aldoux Huxley. A belíssima Blood Brothers é sem duvidas a canção mais famosa do álbum, com o seu ritmo cadenciado e sua melodia graciosa, a faixa caiu nas graças do público e se tornou um dos maiores hinos do Iron Maiden. The Mercenary é ótima, mas nada de muito extraordinária, consequentemente acabou ficando apagada perto das demais. Dream Of Mirrors é fantástica: uma canção longa e complexa, com teor onírico e contemplativo. The Fallen Angel, assim como The Mercenary, é uma obra menor: muito boa, mas acaba ficando ofuscada pelas suas companheiras. The Nomad é a faixa que eu particularmente considero a “menos legal”, é ótima, mas um tanto cansativa e repetitiva, enjoa muito fácil. Out Of The Silent Planet é incrível: inspirada tanto pelo livro homônimo de C.S. Lewis quanto pelo filme O Planeta Proibido, é uma canção épica que nos faz sentir em meio à uma grande batalha no espaço sideral. Por fim, The Thin Line Between Love And Hate, foi mais uma que acabou não emplacando, mas que é excelente e traz um encerramento satisfatório para o Brave New World.

#7 – Killers (1981)

Voltando muitos anos no tempo, temos em sétimo lugar da lista o segundo álbum de estúdio do Iron Maiden, o icônico Killers. Na época, o estilo deles ainda era bem diferente do que é agora: o que tínhamos era um heavy metal cru, músicas curtas, simples e diretas, e com uma preocupação em fazer algo pesado, rápido e agressivo, assim como a grande maioria das contemporâneas bandas britânicas de heavy metal. Killers foi um sucesso estrondoso entre os headbangers e instantaneamente se tornou um clássico indispensável do NWOBHM, dando um up no movimento e servindo de influência para dezenas de bandas do mesmo que surgiram posteriormente. O álbum também marca a entrada do guitarrista Adrian Smith e a saída do até então vocalista Paul Di’Anno.

Abrindo o álbum, temos The Ides Of March, uma  instrumental sensacional e a menor música de toda a carreira deles, com menos de um minuto e meio de duração. Em seguida, Wrathchild, a mais popular faixa do Killers, figurinha carimbada na maioria dos shows deles, além de ter marcado presença na clássica coletânea Metal For Muthas e no jogo Guitar Hero Encore: Rocks The 80s. Murders In The Rue Morgue é uma música um pouco mais bem trabalhada, com uma introdução lúgubre e a letra inspirada pelo conto homônimo de Edgar Allan Poe. Another Life, Genghis Kahn e Innocent Exile seguem no NWOBHM puro: curtas e simples, pesadas e rápidas, extremamente empolgantes, com riffs extraordinários e solos de tirar o fôlego. A faixa-título Killers é magnífica: conta com uma intro de baixo fantástica, um riff absurdamente genial, uma melodia imponente, um refrão memorável e um solo impecável. Prodigal Son é um tanto diferente das demais, mais lenta e melódica. Purgatory volta com força total ao peso e agressividade. Twilight Zone segue por um estilo mais setentista, lembrando o som de bandas como UFO e Uriah Heep. Por fim, Drifter encerra o Killers de forma magistral: uma música veloz e cortante, com um riff sombrio e um solo espetacular!

#6 – Iron Maiden (1980)

Claro que o álbum de estréia jamais poderia ficar de fora! O Iron Maiden foi considerado por muitos especialistas como um marco na história do heavy metal: simplesmente o responsável por definir como seria o Metal oitentista. Curiosamente, Steve Harris criticou bastante o resultado final pela crueza das músicas, contudo, ele foi aclamadíssimo pela crítica (até hoje ainda é uma figura recorrente em várias listas de “melhores álbuns de heavy metal da história” e “álbuns para se ouvir antes de morrer”), imediatamente ganhou uma legião de fãs e foi um sucesso absoluto de vendas, dando início à discografia de uma das maiores bandas de todos os tempos da melhor maneira possível!

Prowler traz um inicio glorioso a tudo: um riff que é uma verdadeira aula de como usar o pedal uáuá, ritmo frenético, barulhento e direto ao ponto, ditando o estilo que as músicas do álbum terão. Entretanto, há algumas exceções, e Remember Tomorrow é uma delas: uma canção com andamento lento e atmosfera extremamente sombria. Running Free foi a primeira a ser lançada como single e uma das faixas de maior sucesso do Iron Maiden, recorrente nos shows deles até hoje. Rápida e agitada, ela com certeza faz jus ao seu título. Phantom Of The Opera é extraordinária, diferente de suas colegas, é uma música comprida e refinada, com várias mudanças de ritmo, um solo fenomenal, e é a prova de que Steve Harris não é considerado o melhor baixista de todos os tempos à toa. Transylvania, a faixa instrumental, é fora de série, uma pequena demonstração do talento de Dave Murray na guitarra. Strange World é aquela pausa para respirar, uma semi-balada depressiva com ares fúnebres e um encerramento bastante sinistro. E esse “momento de descanso” é mais do que necessário, pois as três faixas seguintes, Sanctuary, Charlotte The Harlot e Iron Maiden vão te deixar esgotado de tanto fazer headbang, todas elas são canções de pequena duração, com riffs excepcionais (principalmente a última), ritmos e melodias alucinantes e refrãos que ficarão marcados na sua memória para sempre. A faixa-título Iron Maiden encerra o debut com chave de ouro e deixa bem claro quem eles são e à que vieram: “Iron Maiden can’t be bought, Iron Maiden can’t be sold!!!

#5 – Piece Of Mind (1983)

Adentrando a Era de Ouro do Iron Maiden, comecemos com o quarto álbum de estúdio deles. O clássico Piece Of Mind foi o segundo lançado após a entrada de Bruce Dickinson, e aqui eles dão continuidade ao novo perfil adotado desde o lançamento do seu antecessor (falarei dele mais pra frente), com músicas extremamente complexas e tecnicamente impecáveis, além de definir o estilo das suas letras, sempre com um conteúdo muito culto, falando sobre história, literatura e cinema (temas que já eram abordados nos álbuns anteriores, mas não tanto quanto a partir deste). Outros marcos importantes do Piece Of Mind incluem a entrada do baterista Nicko McBrain, sendo esse o primeiro álbum com a famosa formação clássica (Dickinson, Harris, Smith, Murray e McBrain), ter sido o primeiro a entrar no Top 100 da Billboard, e também o primeiro cujo título não é o nome de nenhuma música.

Where Eagles Dare abre o álbum de forma magistral: baseada no romance homônimo escrito por Alistar Maclean (que rendeu uma adaptação cinematográfica dirigida por Brian G. Hutton e estrelada por Clint Eastwood), é uma música épica, imponente e frenética, passa a sensação de estarmos no meio de um conflito aéreo. Revelations é uma verdadeira obra-prima, detentora de uma letra enigmática e poética aliada à uma melodia contemplativa que proporcionam um clima filosófico e onírico. Flight Of Icarus foi a primeira do álbum a ser lançada como single e um dos maiores sucessos do mesmo. Ela tem um andamento um pouco mais lento, mas ainda extremamente empolgante e conta com um refrão sensacional, sua letra também é um ponto fortíssimo, abordando a figura mitológica do Ícaro. Die With Your Boots On fica um pouco apagada perto de suas companheiras, é uma música excelente, mas é apenas peso, velocidade e simplicidade, nada mais que isso. Já The Trooper dispensa comentários, uma verdadeira canção de guerra, é a faixa mais famosa do Piece Of Mind e uma das músicas mais populares não apenas do Iron Maiden, mas do rock em geral, todo mundo conhece. Still Life é deveras excêntrica: se inicia com uma divertida backward message, que logo dá lugar a um ritmo vagaroso que vai gradativamente ficando mais animado, com uma melodia envolvente e uma letra bizarra, aberta à múltiplas interpretações. Sun And Steel, assim como Die With Your Boots On, também é uma faixa curta, simples e direta que infelizmente acaba sendo deixada de lado nas seleções de favoritas dos fãs, porém vale muito a pena ser conferida, principalmente pela sua letra inspiradora sobre o samurai Miyamoto Musashi. Quest For Fire, bem como sua antecessora, também é pouco lembrada, também é mais curta e simples e também possui uma letra muito legal (baseada no filme homônimo de Jean-Jacques Annaud), mas com o diferencial de que esta é mais lenta. Por fim, a monumental To Tame A Land, inspirada pelo livro Duna, clássico da ficção científica do escritor Frank Herbert, é uma canção longa e requintada, com uma melodia sublime, e um perfeccionismo apurado na parte instrumental (destaque especial para o solo de guitarra, um dos melhores de toda a história da banda).

#4 – Powerslave (1984)

Imagino que este item causará controvérsia, visto que o Powerslave é considerado pela grande maioria como O melhor álbum do Iron Maiden. O quinto álbum de estúdio da banda foi lançado em uma época onde a relação entre os membros estava muito amistosa, seus conflitos pessoais haviam sido deixados para trás e finalmente todo o potencial do grupo fora alcançado. O estilo deles havia mudado radicalmente quando eles lançaram o The Number Of The Beast, o primeiro a contar com Bruce Dickinson, depois foi aperfeiçoado no sucessor Piece Of Mind, e enfim atingiram sua forma final no Powerslave.

Aces High dá um início frenético ao álbum e, semelhante a Where Eagles Dare no anterior, nos transporta para uma batalha de caças na Segunda Guerra Mundial. 2 Minutes To Midnight é simplesmente um dos maiores clássicos do Iron Maiden, é interessante como ela combina uma letra tensa tratando da iminência de um apocalipse nuclear na Guerra Fria (o título faz referência ao famoso Relógio do Juízo Final) com um ritmo agitado e uma melodia contagiante. Destaque também para o refrão, um dos melhores já feitos por eles. Losfer Words (Big ‘Orra) é uma sensacional canção instrumental com temática egípcia. Flash Of The Blade, dona de um riff eletrizante, é aquela faixa – pra não perder a tradição – mais rápida e dinâmica, que inclusive marcou presença no filme Phenomena, de Dario Argento. A esplêndida The Duelists é um verdadeiro hino de batalha: épica, soberba, e que detém um dos solos de guitarra mais extraordinários de todos os tempos, uma pena não ser tão famosa. Back In The Village é breve e vertiginosa, vai direto ao ponto, sem rodeios. A faixa-título Powerslave vem para mostrar que ele não é considerado um dos melhores álbuns da história do Metal à toa, uma música majestosa, grandiosa, poderosa, com um instrumental sofisticado e uma letra densa, filosófica, repleta de nuances e simbolismos. E se não é o suficiente pra te convencer de que todo o reconhecimento do Powerslave é mais do que merecido, Rime Of The Ancient Mariner vem para sanar qualquer dúvida que você ainda tenha em relação a isso. Ela é uma adaptação musical do poema homônimo escrito por Samuel Taylor Coleridge, e é incrível como eles conseguiram traduzir seus versos para uma linguagem mais simples – criando novas rimas, mas sem alterar nada da obra original – e compor ritmos e melodias imersivas que combinam perfeitamente com o texto, fazendo com que imaginemos um filme em nossas mentes. Durante muito tempo ela foi a faixa mais longa da banda, ostentando 13 minutos e meio que valem cada segundo, uma verdadeira epopeia sonora que encerra a “santíssima trindade” do Iron Maiden com chave de ouro!

#3 – The Number Of The Beast (1982)

Enfim, o responsável por dar início à “santíssima trindade” e à Era de Ouro, o lendário The Number Of The Beast! Indiscutivelmente o álbum mais importante de toda a carreira do Iron Maiden, afinal, foi a entrada de Bruce Dickinson na banda, e junto com ele, uma reinvenção total do seu estilo, agora deixando de lado a crueza dos antecessores e passando a criar composições mais complexas, se tornando assim o Maiden como conhecemos hoje. The Number Of The Beast foi aclamadíssimo pela crítica (até hoje considerado um dos melhores álbuns de Metal da história), e um sucesso comercial estrondoso, vendeu mais de 14 milhões de cópias, alcançou a posição #1 nas vendas do Reino Unido e até hoje é o álbum mais vendido deles, muito disso se deve as polêmicas na época de seu lançamento, onde a banda foi exaustivamente acusada de satanismo, o que acabou rendendo publicidade gratuita para eles. Outro fato importante sobre ele foi de ter sido o último álbum a contar com Clive Burr na bateria, que posteriormente fora substituído por Nicko McBrain. Particularmente, recomendo a todos que nunca ouviram nada do Iron Maiden a começarem pelo The Number Of The Beast, porque ele mostra o som deles em sua forma mais pura, toda a essência, o cerne, o zênite do grupo se faz presente nessa obra-prima da primeira arte.

Invaders chega com os dois pés na porta, frenética e enérgica, combinando perfeitamente com sua letra que fala sobre as incursões Vikings nos países Saxões. Apesar de Steve Harris não gostar dessa faixa e muitos críticos e fãs concordarem com ele, eu particularmente penso que não havia escolha melhor para iniciar esse álbum. Children Of The Damned é perfeita: uma música sofisticada e sombria, que começa lenta e vai gradativamente se tornando mais pesada e intensa, mas sem perder em momento algum sua atmosfera soturna e pessimista. The Prisoner, inspirada pela série televisiva homônima, tem uma introdução um pouco “parada”, mas que logo dá lugar à um ritmo acelerado e vertiginoso, onde vale destacar o sensacional solo de guitarra, a bateria e o belíssimo refrão. 22 Acacia Avenue é um dos grandes trunfos do Number, a música que dá continuidade na saga de “Charlotte The Harlot” é absurdamente imersiva, prende a atenção do ouvinte logo nos primeiros segundos e vai até o fim, quando você se dá conta já passaram seis minutos e meio. A faixa-título The Number Of The Beast dispensa apresentações, a mais famosa música do Iron Maiden, impossível não conhecer. Run To The Hills também é outro grande sucesso deles, famosíssima, não apenas pela sua qualidade em si, mas também por ter sido a primeira faixa do álbum a ser lançada como single, ou seja, foi a primeira vez que os fãs tiveram contato com “o novo” Iron Maiden. Gangland é a “menos legal”, é uma ótima música, mas não tem nada de muito notável, os membros da banda se arrependem amargamente de não terem colocado Total Eclipse em seu lugar (que havia sido lançada no single de Run To The Hills, posteriormente foi incluída em um relançamento do Number). Por fim, a magnífica Hallowed Be Thy Name, considerada por muitos como a melhor música já feita por eles. Impecável em todos os sentidos, a parte instrumental conta com um perfeccionismo técnico muito acima da média – começa de maneira cadenciada e melancólica e logo se torna mais movimentada, mas ainda assim se mantendo em um ritmo harmonioso e contemplativo – e com o vocal de Bruce Dickinson mostrando à que veio, cantando uma letra dramática reforçada por uma melodia emocionante.

#2 – Seventh Son Of A Seventh Son (1988)

Seventh Son Of A Seventh Son, o sétimo álbum de estúdio do Iron Maiden, é bem diferente de todos os outros, pois aqui eles apostaram no modelo de álbum conceitual, que são álbuns que contam uma história, onde a letra de cada música é um capítulo de uma grande narrativa (modelo bastante utilizado por bandas de rock progressivo). Inspiradas pelo livro Seventh Son, de Orson Scott Card, as canções falam sobre a jornada do sétimo filho do sétimo filho, um jovem com poderes sobrenaturais cuja existência desencadeia uma verdadeira guerra entre as forças do bem e as forças do mal que lutam pelo controle do rapaz. É interessante notar que, as faixas como um todo narram esse conto épico, porém, todas as letras funcionam perfeitamente bem isoladamente, onde cada “capítulo” explora um determinado tema, como o poder, o controle, a dualidade entre o bem e o mal, visões proféticas, vida e morte, vida após a morte, reencarnação, etc. No álbum anterior (falarei dele no próximo tópico), eles passaram a experimentar o uso de teclados e sintetizadores em suas composições, mas neste eles tiveram um proveito ainda maior destes recursos, adentrando de vez no prog metal e ampliando a atmosfera psicodélica e onírica que o álbum se propõe a criar. Seventh Son Of A Seventh Son foi um sucesso comercial estrondoso, e assim como o The Number Of The Beast, ficou em primeiro lugar no ranking de vendas do Reino Unido, foi o – até então – último álbum a contar com a participação do guitarrista Adrian Smith (que deixou o grupo durante a produção do álbum seguinte, No Prayer For The Dying, pois estava insatisfeito com o rumo que eles estavam tomando, e só foi retornar em 1999, como foi falado no tópico sobre o Brave New World), e também marca o fim da Era de Ouro da banda.

Moonchild é um início arrebatador e violento, contando a primeira parte da história: o sétimo filho do sétimo filho acaba de nascer e o diabo entra em desespero, indo atrás de todos os recém-nascidos para assassiná-los (trazendo um paralelo entre o Rei Herodes e Jesus Cristo), e ao falhar, roga-lhe uma maldição, prevendo que ele está fadado à se entregar ao lado do mal e terá sua alma condenada ao eterno sofrimento. Em Infinite Dreams, os poderes do jovem começam a se manifestar em seus sonhos e ele está totalmente confuso e atormentado, ao mesmo tempo que está curioso para saber mais sobre o que está acontecendo, e é incrível a maneira como a música transpõe isso para o ouvinte, através de um ritmo que começa calmo e pacífico, e que vai progressivamente ficando mais carregado e claustrofóbico. A letra é magnífica, descrevendo o ponto de vista do garoto de forma poética e filosófica, reforçada por uma melodia imersiva e contemplativa – na minha opinião, essa é a melhor faixa do álbum, e uma das minhas favoritas deles em geral. Can I Play With Madness foi a canção de maior sucesso do Seventh Son Of A Seventh Son, tendo uma composição mais agitada, um tanto maluca, com um ritmo divertido e um refrão marcante. Na letra, o garoto está intrigado com as suas visões e vai atrás de um profeta que tem uma bola de cristal para obter respostas, e este fica lhe enrolando, até que o jovem perde a paciência e exige a verdade, e eis que a recebe: “sua alma vai queimar em um lago de fogo!”. Irritado e não convencido, o sétimo filho o ignora. The Evil That Men Do foi outro mega sucesso, que diferente de sua antecessora, traz um tom mais sombrio e misterioso. A narrativa dá um salto no tempo aqui, onde o sétimo filho se apaixonou pela filha do profeta, e este, sabendo da sina terrível que o aguardava e temendo pelo destino de sua filha, a mata, para evitar que algo pior lhe acontecesse no futuro, e é neste ponto que a letra da música se inicia, com o nosso protagonista lamentando o assassinato cruel de sua “namorada” e se questionando sobre a maldade no coração dos homens, e isso é o estopim para que ele finalmente decida ficar do lado do bem e para que seus poderes se manifestem totalmente, e é aí que começa a faixa-título Seventh Son Of A Seventh Son: após o sétimo filho do sétimo filho ter atingido a totalidade de seus dons, uma guerra se inicia entre as forças do bem e as forças do mal pelo controle do garoto. O duelo entre bem e mal é “narrado” através da parte instrumental, com solos de guitarra mais pesados representando as trevas enquanto um teclado que imita um coral de anjos representa a luz. É uma música intensa, grandiosa e épica, que no fim se encerra de maneira harmônica, dando a entender que o bem prevaleceu. The Profecy traz um ponto de virada para a história: após ter decidido lutar pelo lado luminoso, o sétimo filho tem visões de que sua vila está prestes a ser destruída, e alerta a população local, que não lhes dá ouvidos, acreditando se tratar de mais um falso profeta. No fim, sua visão estava correta, o desastre acontece, e os aldeões, contrariados e revoltados, jogam a culpa nele, achando que ele havia amaldiçoado o vilarejo, e após todos se voltarem contra ele (que só estava querendo ajudar), o sétimo filho é consumido pelo ódio e sucumbe ao lado negro. É interessante notar que a música tem uma introdução tranquila e um encerramento triste, ilustrando a jornada do nosso protagonista em direção ao abismo, que continua em The Clarvoyant: depois de ser corrompido, o sétimo filho perde totalmente o controle de seus poderes, enlouquece, não consegue mais distinguir o que é real e o que não é, e todo esse sentimento de confusão e desespero é intensificado através de uma melodia sufocante e opressiva, por fim, ele não consegue mais resistir e morre. Finalizando, temos Only The Good Young, que narra o epílogo desta história: o mal triunfou, a maldição jogada pelo diabo deu certo, o sétimo filho do sétimo filho foi seduzido pela maldade e condenou sua alma ao Inferno, foi manipulado o tempo inteiro como uma peão em um jogo de xadrez e agora a escuridão impera. A canção possui um tom depressivo e pessimista, e traz um desfecho trágico e amargurado para o álbum.

#1 – Somewhere In Time (1986)

Finalmente, chegamos no meu favorito. Após terem atingido todo o seu potencial no Powerslave e terem lançado sua primeira coletânea, o Live After Death, eles decidiram que era hora de experimentar algumas coisas novas, seguir por outros caminhos, e eis que surge o Somewhere In Time, um álbum com temática futurista (bastante adequado, diga-se de passagem), que vai desde a arte na capa inspirada por Blade Runner, até a utilização de sintetizadores (sendo essa a primeira vez que o Maiden fez uso deste recurso) para criar aquela sonoridade “robótica”, e as letras inteligentes abordando temas filosóficos envolvendo tempo e espaço. Somewhere In Time foi o álbum deles que custou mais caro para ser produzido, e que, apesar de fazer parte da Era de Ouro da banda, não tem o mesmo reconhecimento de seus três antecessores, o que é uma pena, afinal, ele é um dos motivos pelos quais 1986 é considerado o melhor ano da história do Metal.

Logo de cara já se percebe a diferença deste para os demais álbuns: eles geralmente são introduzidos com faixas mais curtas, rápidas e simples, este não, Caught Somewhere In Time é uma música longa, experimental e com várias mudanças de ritmo, seus primeiros segundos já deixam isso bem claroWasted Years é a faixa mais famosa do álbum, e curiosamente, é a única que não utiliza sintetizadores. A música se inicia com um riff bastante criativo (que se tornou um dos mais icônicos do heavy metal em geral), tem um andamento rápido mas ao mesmo tempo melódico e harmônico, um refrão memorável e uma letra muito bonita. Sea Of Madness é uma canção pouco conhecida e que definitivamente merecia mais reconhecimento. Assim como suas antecessoras e demais faixas do Somewhere, ela apresenta várias mudanças de ritmo muito bem executadas e consegue conciliar peso e velocidade com melodia e harmonia de maneira primorosa, além de ter um dos refrãos mais legais que eu já ouvi. Heaven Can Wait é colossal, tem um início acelerado e dinâmico, até que de repente fica mais lenta, e aí temos um coro de arrepiar (sempre cantado pelo público quando tocada em shows, aliás, de todas as músicas desse álbum, essa foi a melhor aproveitada ao vivo), embalado por um solo incrível, e depois volta ao ritmo inicial e segue nele até o fim. The Loneliness Of The Long Distance Runner é outra extremamente subestimada e que merecia mais atenção, foi tocada ao vivo apenas uma vez em ’86 e depois nunca mais. Ela começa com uma introdução lenta, mas que fica mais veloz com a entrada do vocal, tem uma melodia belíssima e uma letra pensativa e contemplativa. Stranger In A Strange Land é simplesmente a melhor música já feita por eles, e o próprio Steve Harris concorda comigo. De Ja Vu é a mais curta do álbum e a única a contar com Dave Murray na composição. Assim como boa parte de suas colegas, é uma canção com muitas variações de tempo, que começa com uma introdução vagarosa e melancólica, mas logo se torna mais agitada. A letra é muito bem escrita, o refrão é ótimo, o riff e os solos de Murray e Smith são incríveis, o baixo e a bateria estão impecáveis, uma pena que esta acabou se tornando mais uma música “esquecida”. Por fim, Alexander The Great encerra esta obra-prima com chave de ouro. Uma canção longa, épica, envolvente e extremamente complexa, indiscutivelmente é uma das composições mais criativas e bem elaboradas do Iron Maiden. A faixa apresenta várias mudanças de ritmo muito bem conduzidas que prendem a atenção do ouvinte do primeiro ao último segundo, um instrumental imponente com uma qualidade técnica impressionante, arranjos extremamente sofisticados, uma melodia teatral que evoca uma sensação de heroísmo e uma letra fabulosa que definitivamente faz jus ao homem cuja história é o tema desta canção. Para vocês terem uma idéia, Alexander The Great nunca foi tocada ao vivo de tão complicada que é, o que é uma pena, visto que ela é uma das favoritas dos fãs, que torcem para que, pelo menos uma vez, essa obra de arte possa ser ouvida em um show.

Finalizando, como eu disse no começo, em uma lista com um tema desses não há verdades absolutas, apenas o gosto pessoal de cada um, então, o que você achou? Concorda, discorda, deixe aí nos comentários.

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Sobre o Autor

21 anos. Apreciador de cinema, literatura, quadrinhos e heavy metal.