Indo contra seus próprios planos, a Walt Disney Pictures decidiu deixar a ideia de trilogia de lado e fazer um quarto filme da franquia Piratas do Caribe. O desfecho de No Fim do Mundo, embora seja bem fechado e sirva como capítulo final para a franquia, deixa em sua última cena uma pista de qual seria a próxima aventura do Capitão Jack Sparrow (podendo facilmente viver apenas no imaginário dos fãs), onde o mesmo apresenta estar interessado na famosa Fonte Da Juventude; e é exatamente esse o plot do quarto filme da franquia. Sendo lançado em 2011, Navegando em Águas Misteriosas mostrou como a saga continua forte e com um público fiel. O filme arrecadou mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo e se sacramentou na indústria como a maior saga de piratas já feita para os cinemas.
Navegando em Águas Desagradáveis
Como de praxe na franquia, o quarto capítulo da história nos apresenta um ótimo vilão, interpretado por um grande ator. Ian McShane dá vida ao infame e temido Capitão Barba Negra, personagem recorrente de muitas lendas que envolvem os sete mares. McShane mostra seu talento e nos entrega mais um excelente antagonista para o atrapalhado Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), enquanto, ao mesmo tempo, antagoniza com o agora perna-de-pau Capitão Hector Barbossa (Geoffrey Rush), que após perder o Pérola Negra serve como corsário a serviço do reino da Inglaterra. Rush está mais confortável do que nunca em seu icônico papel, e talvez seja um dos maiores destaques de todo o filme, ao lado de McShane.
Somando o elenco, temos Penélope Cruz interpretando Angelica, antigo romance de Jack. Anglelica é filha de Barba Negra e está atualmente ajudando seu pai na missão de fugir do temido “homem de uma perna só” (que mais tarde nos é mostrado que se trata do Barbossa), além de ajudá-lo a também procurar pela Fonte da Juventude, da qual ambos acreditam que livrará o capitão do Vingança da Rainha Anna da morte. Penélope tem uma boa química com Depp, mas nada que seja memorável e que nos faça acreditar que nosso querido Capitão Jack Sparrow possa mesmo ser laçado por alguma mulher desse mundo. Um dos muitos pontos negativos da história é deixar o Pérola de lado, que é de longe o navio mais icônico da franquia, e apostar no navio de Barba Negra. Trancafiado dentro de sua grande coleção de embarcações engarrafadas, o personagem de Ian McShane detém o Pérola como um trinfo de uma de suas muitas batalhas vencidas. O Vingança da Rainha Anna é um navio amaldiçoado, como no passado o ex-navio de Sparrow foi, e a partir das ordens de seu capitão, que empunha uma espécie de espada mágica, a embarcação ganha vida e aniquila os possíveis inimigos.
Temos também a estréia de inúmeros outros personagens, como O Espanhol, serviço do país europeu de mesmo nome com uma fervorosidade religiosa, que afirma que apenas Deus pode dar a alguém o dom da vida eterna. O Espanhol antagoniza todos os outros personagens do filme, e também busca pela Fonte, porém com o intuito de destruí-la. Johnny Depp volta como o icônico Capitão Jack Sparrow, entretanto sem o mesmo brilhantismo de antes. Em todas as vezes que assisti ao filme, senti que sua atuação estava um pouco “robotizada” e forçada, apenas refazendo as caras e bocas e os trejeitos que deram certo nos filmes anteriores. Tá bom, e desde quando isso é ruim? Bem, fica ruim a partir do momento em que o ator nada acrescenta à personalidade do personagem. Sparrow evoluiu muito do início do primeiro longa ao final do terceiro, porém no quarto não demostra nenhuma aptidão ou força de vontade em evoluir. Talvez isso seja culpa do roteiro também, quem sabe. Kevin McNally novamente dá às caras como Joshamee Gibbs, e isso nos faz refletir e perceber a falta que outros personagens coadjuvantes, que também compunham a tripulação do Pérola Negra, fazem.
A história é cativante, mas a execução deixou um pouco a desejar. A franquia deixou o talento e experiência de Gore Verbinski de lado e apostou no não tão competente Rob Marshall para ocupar o cargo de diretor. Marshall é, por vezes, exagerado demais e não consegue dar aos atores os tempos cômicos precisos; porém faz acertadas cenas de ação, embora não cheguem aos pés da grandiosidade dos três longas anteriores (pode ser que isso seja proposital, já que essa trama é bem menos complicada que as outras, e é tradada de uma forma muito mais episódica). A jornada mostrada no filme é bem interessante, mas o roteiro infelizmente aposta em um caminho difícil durante o percurso, colocando várias coisas extras e sem necessidade. Difícil de acreditar que Ted Elliott e Terry Rossio, os mesmos responsáveis pelas histórias de A Maldição do Pérola Negra, O Baú da Morte e No Fim do Mundo sejam os responsáveis por essa nova aventura. Além do fato de enfiarem um romancezinho mequetrefe entre um homem e uma sereia, interpretados respectivamente por Sam Clafline Àstrid Bergès-Frisbey, que irrita e tira o foco da história muitas das vezes. Mas ambos os atores estão bem em seus respectivos papéis, justificando claramente um erro de rumo do roteiro.
Produção e trilha sonora, novamente, excepcionais
Os efeitos especiais estão, assim como de todos os outros capítulos, excelentes. A fotografia de Dariusz Wolski, profissional que trabalhou nos longas anteriores, novamente impressiona e dá personalidade para esse universo. O CGI do filme está excepcional, principalmente em relação às sereias, dando um aspecto crível para muitas coisas que acontecem durante o desenrolar da história.
Novamente a trilha sonora está espetacular. Hans Zimmer inova bastante e faz as pouco mais de duas horas de filme valerem à pena mais por suas faixas majestosas do que por qualquer outra coisa. O Barba Negra possui um dos melhores temas da franquia, Blackbeard (o nome do personagem em inglês), e criaturas como as sereias e as localidades onde se encontra a tão cobiçada Fonte da Juventude também, com faixas como Mermaids, Mutiny e On Stranger Tides. Os temas utilizados nas localidades do Vingança da Rainha Anna são igualmente ótimos, e músicas como The Pirate That Should Not Be e South of Heaven’s Chanting Mermaids são usadas para aprofundar mais da antiga relação entre Angelica e Jack.
Enfim, Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas não é um filme ruim, mas se mostra bem inferior às histórias e execuções mostradas na trilogia original. É claro que existem aqueles que adorem o longa, mas infelizmente não é o meu caso.
Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides) – Estados Unidos, 2011, cor, 136 minutos.
Direção: Rob Marshall. Roteiro: Ted Elliott e Terry Rossio. Música: Hans Zimmer. Produção: Jerry Bruckheimer. Direção de arte: John Myhre. Direção de fotografia: Dariusz Wolski. Edição: David Brenner e Wyatt Smith. Elenco: Johnny Depp, Penélope Cruz, Ian McShane, Geoffrey Rush, Kevin McNally, Sam Claflin, Àstrid Bergès-Frisbey, Stephen Graham, etc.