Eu já tirei coisa maior do meu nariz. E mais bonita…
Essa frase pode definir o que sinto por este filme.
Se Meu Fusca Falasse (1968) foi um tremendo sucesso e um dos live-actions mais bem sucedidos da Disney, quase ultrapassando Mary Poppins nas bilheterias e ficando em terceiro lugar das maiores de 68. O “personagem” era usado até mesmo nas atrações da Disneyland e foi imortalizado no Disney All Star Movies Resort, na Flórida. Depois de 8 anos, Herbie finalmente (Na verdade, infelizmente) saiu da garagem com Herbie: Meu Fusca Turbinado. Não existe a necessidade de se assistir toda a franquia (Apesar de que seria bom conferir o primeiro, que conta com a direção do ótimo Robert Stevenson), já que ele começa com uma montagem dos melhores momentos do carro em Se Meu Fusca Falasse, As Novas Aventuras do Fusca, Herbie: O Fusca Enamorado e A Última Cruzada do Fusca. O trabalho de Angela Robinson pretendia voltar com tudo e quem sabe ressuscitar a franquia novamente, mas o resultado foi um enorme fracasso que até fez um sucesso entre os mais jovens, mas despertou a fúria dos fãs…assim como a maioria dos remakes e continuações de filmes antigos.
O modo como o projeto surgiu já é controverso. Em 2004, um roteirista chamado Joshua Qualls enviou para o estúdio um argumento para o novo filme do Fusca. Sua versão trazia a volta de Dean Jones, agora como o avô de uma protagonista feminina (Sua sugestão era Lindsay Lohan. Olha só que coincidência!). John Cleese interpretaria Peter Thorndyke, o antagonista do Se Meu Fusca Falasse original vivido anteriormente por David Tomlinson (já falecido em 2000) e outros atores que passaram pela franquia voltariam também, como Don Knotts no papel de Wheely Applegate (Herbie: O Fusca Enamorado de 1977). A Disney mandou uma carta rejeitando o projeto, mas elogiando sua iniciativa. Outros roteiros já tinham sido recusados e esse não foi exceção, mas parece que eles realmente se interessaram um pouco na história de Qualls. Fato é que a produção engatou neste ano, e escolheu duas sugestões do iniciante roteirista para o elenco: Lohan e Michael Keaton como o pai da protagonista (Que na versão original, morreria em um acidente na Nascar). Qualls até tentou entrar na justiça, não dando em nada. Convenhamos que ele foi um pouco ingênuo em ter tantas esperanças, mas ao menos eles poderiam ter comprado seu argumento e não plagiado. E o surpreendente é que mesmo com o plágio, o filme foi um lixo. Para não ser uma grande cópia descarada, eles refizeram muitas coisas, somente deixando uma mulher no papel principal, e acrescentando coisas como o Herbie com mais “expressões faciais” e a presença maior da Nascar.
Herbie foi perdendo várias corridas com diferentes donos ao longo dos anos e acabou no ferro-velho (O estranho é ele não ter ficado em posse dos conhecidos de Jim Douglas, que apareceram no segundo e quarto filme e estavam vivos. Dean Jones só morreu em 2015…). Maggie Peyton (Lindsay Lohan) quer se tornar uma piloto da Nascar, mas seu pai super protetor, Ray Peyton (Michael Keaton), a proíbe. Ray deseja que sua filha arrume um emprego de locutora de esportes para TV, já que no passado, Maggie sofreu um grave acidente em uma corrida de rua, e deixe a pista para seu irmão. Quando Ray leva Maggie ao mesmo ferro-velho para comprar um carro, ela escolhe o pequeno Volkswagen 63 (em uma cena até engraçada). O Fusca veterano finalmente volta a correr junto de sua nova dona.
Se o filme fosse um remake, seria até aceitável, mas ele é uma sequência direta dos filmes anteriores e tiveram a péssima decisão de usar CGI para dar vida ao carro. Herbie nunca precisou emitir barulhos estranhos ou mover excessivamente os faróis e o para-choque para demonstrar seus sentimentos. Sua simplicidade era sua graça, e essa ideia estragou a personagem. Várias passagens do filme de 1968 foram plagiadas por falta de originalidade, como quando Maggie pensa em um carro mais veloz e atual (No filme original, o personagem de Dean Jones compra uma Lamborghini para substituir Herbie), a perda de uma corrida importante, a reconciliação entre o Herbie e a protagonista, etc. Furos acompanham o roteiro (Maggie e seu amigo Kevin acreditam e não acreditam que Herbie é um carro vivo) e mal sabemos o que aconteceu aos donos originais. E o mais estranho é que ninguém, inclusive os profissionais da Nascar, sabe quem é o Herbie. Deve ser bem fácil esquecer um carro (dividido ao meio) que venceu um Apollo GT e que correu em Monte Carlo e no Brasil nos anos 70 e 80 e ainda foi estrela de inúmeras revistas e jornais (Como o próprio filme mostra na abertura, se auto-sabotando). É, é fácil esquecer um Fusca 53 de teto solar humilhando carros velozes que você sequer pensará em ter na vida…
E o Herbie correndo na Nascar? Sério, quem teve essa ideia estúpida? Somente para mostrar inúmeras marcas famosas (Fazendo uma espécie de “filme propaganda”) e não mostrar pistas deslumbrantes como em Se Meu Fusca Falasse e Herbie: O Fusca Enamorado. Outra coisa: Ele ganhou estranhamente a habilidade de ler a mente de seu dono e solta barulhos parecidos com alguém que está tendo uma diarreia algumas vezes.
A personalidade do carro estrela é a mesma, e ele continua com seu jeito infantil. A trilha sonora contendo clássicos dos anos 60 e 70 é um ponto positivo, apesar da música-tema ser tocada só uma vez e fazer uma grande falta. Uma das cenas mais memoráveis é quando o fusca se apaixona por uma New Bettle amarela, e com Hello de Lionel Richie tocando ao fundo. Voltando aos pontos negativos, uma falta de conectividade pode ser sentida. Não parece que o longa é uma continuação, e além disso, não desperta tanta nostalgia. É como se Dean Jones, Buddy Hackett, David Tomlinson e companhia nunca tivessem existido ou Herbie tenha os esquecido completamente.
Lindsay Lohan está ok. Sua atuação é em alguns momentos bem fraca e ela joga mais a responsabilidade encima do carro. Michael Keaton é a melhor coisa do filme. Matt Dillon se apoia em expressões faciais e inspirações no personagem de Tomlinson, não conseguindo convencer. Ele está mais para um carinha mimado e revoltadinho do que um corredor realmente mal que já deve ter passado a perna em muitas pessoas.
Assim como outros remakes e continuações do estúdio feitos nos anos 2000, não houve preocupação em agradar os fãs da franquia. Escasso em criatividade, Herbie: Meu Fusca Turbinado é divertido para crianças e adolescentes, mas uma tortura para os que já viram e que são fãs do original. Esses não iriam pensar duas vezes e assistiriam as três primeiras parcelas da franquia (Se Meu Fusca Falasse, As Novas Aventuras do Fusca e Herbie: O Fusca Enamorado). Se o remake pelo Disney XD seguir pelo mesmo caminho, podem esperar a mesma qualidade que esse filme possui.
Herbie: Meu Fusca Turbinado (Herbie: Fully Loaded) – EUA, 2005, 101 minutos.
Direção: Angela Robinson. Roteiro: Thomas Lennon, Robert Ben Garant, Alfred Gough, Miles Millar. Cinematografia: Greg Gardiner. Edição: Wendy Greene Bricmont. Música: Mark Mothersbaugh. Elenco: Lindsay Lohan, Justin Long, Michael Keaton, Matt Dillon, Breckin Meyer, Cheryl Hines, Thomas Lennon, Jeremy Roberts, Jimmy Simpsom.