Esse compilado de histórias clássicas nos apresenta as primeiras aventuras da heroína, do ano em que foi criada e posteriores. Crônicas, até agora, foi dividido em três encadernados, porém hoje falarei apenas do primeiro (que é o mais importante, claro – e, sinceramente, também foi o único que li). A nossa querida Mulher-Maravilha foi criada em 1941, pelo ilustríssimo William Moulton Marston. Compilando as edições de All Star Comics #8Sensation Comics de #1 a #9 e Mulher-Maravilha #1Crônicas nos presenteia com um deleite gráfico de todo o início da concepção e prática do empoderamento feminino nos quadrinhos.

Nasce a Mulher-Maravilha!

Quando foi criado, o mundo dos quadrinhos era estritamente do domínio do homem. No início de 1940 a DC Comics era dominada pelos personagens masculinos com superpoderes, que virariam ícones da nona arte com o passar do tempo, tais como Lanterna Verde, Batman, e o principal deles, o Superman. Motivado pelo ponto de vista masculino de seus criadores, os heróis de quadrinhos relegaram às mulheres o papel de apoio de mãe, esposa e amiga. Maxwell Charles Gaines (da editora All Star Comics) e William Moulton Marston (criador da personagem) não tinham certeza de como uma heroína feminina seria recebida.

A personagem não teria permissão para matar ninguém, nem estaria autorizada a usar a violência, exceto em autodefesa ou em defesa de outros. O amor era, e ainda é, a chave para a força da mulher. Quando a Mulher-Maravilha vence o inimigo, ela também torna possível que o vilão (ou vilã) reflita sobre seu erro além de fornecer reabilitação, utilizando seu laço mágico e fazendo com que o delinquente ou os malfeitores possam reconhecer seus erros. Sendo também o criador do polígrafo, mais conhecido como detector de mentiras, Marston concluiu por suas experiências que as mulheres eram mais honestas e confiáveis do que os homens, e pôde assim trabalhar com sua personagem com mais eficiência. Outro fato curioso é que Marston se inspirou em suas duas esposas (sim, ele era polígamo), Elizabeth Marston e Olive Charles Byrne, para conceber a princesa amazona.

A imigrante amazona

Estabelecendo desde a primeira página a beleza e discrepância que o mundo dessas guerreiras tem do mundo dos homens, a mitologia da Mulher-Maravilha é moldada com inspiração nas histórias dos deuses gregos. Conceitos que George Pérez reaproveitou (além de criar novos, claro) e introduziu em suas histórias que remodelaram a personagem no seu primeiro arco pós-Crise Nas Infinitas TerrasDeuses e Mortais.

A história, como todo mundo já conhece, se baseia na queda do avião de Steve Trevor na Ilha Paraíso, que desperta, além da atenção das amazonas, o sentimento de amor de Diana pelo homem até então desconhecido. Encarregada de levar Trevor ao mundo do patriarcado, após vencer uma competição promovida por sua mãe, Hipólita, Diana tem contato com uma realidade totalmente nova. Ela conhece pessoas ruins e se depara com diversas situações estranhas e nunca antes vistas por ela, como assaltos e a má-fé de outros seres. A garota, que recém chegou aos Estados Unidos da América, conhece uma enfermeira chamada Diana Prince, da qual adquire o sobrenome após a mesma partir à procura de seu amado homem que a deixou. Diana, agora com uma identidade nova usando como disfarce, se torna a secretária de Steve Trevor, e vai ajudar a humanidade a combater diversos crimes e problemas que venham a acontecer.

A Doutora Veneno, que muitos conheceram a partir do filme da Mulher-Maravilha, dá às caras. Inicialmente sendo chamada de Doutor Veneno, a personagem só foi declarada como uma mulher após Diana notar suas lindas mãos delicadas. Na história ela cria um gás venenoso que faz qualquer ser que o inala cumprir exatamente o oposto dos atos que deseja. Etta Candy, personagem importante e conhecida da mitologia da heroína, também aparece em vários momentos, acompanhada de um grupo de mulheres que ajudam a heroína amazona em diversas aventuras.

As histórias presentes em Crônicas exploram muito o empoderamento feminino. Em diversas ocasiões, as mulheres são mostradas como fortes o bastante para vencer os desafios, mesmo que tenham que se unir para conseguir o que desejam. Não precisam da ajuda dos homens pois podem ser completamente independentes. Crônicas aborda tramas com submissões femininas também, que obviamente são revertidas e taxadas de ridículas no final de tudo.

Um fato interessante é que, diferente de várias histórias dessa época, aqui temos sempre um mocinho em perigo. Na maioria das vezes, Steve Trevor cumpre esse papel e a Mulher-Maravilha aparece para ajudar. Como Mastron queria, as mulheres em suas histórias não se relegaram apenas ao papel de apoio de mãe, esposa, amiga ou mocinha indefesa. Histórias envolventes, mesmo que dotadas de uma narrativa ultrapassada, personagens revolucionários, e a aurora do poderio feminino nos quadrinhos… É isso que Crônicas nos mostra. Para os interessados, infelizmente não é muito fácil encontrar esse encadernado à venda aqui no país, devido ao limitado número de tiragens feitas pela Panini, porém, assim como eu, você pode encontrá-lo sem esforços a partir das scans.

Mulher-Maravilha: Crônicas – Volume 1 (Wonder-Woman: Chronicles – Volume 1 – EUA – 2010, DC Comics).
Roteiro: William Moulton Marston. Arte: H. G. Peter. Capas: H. G. Peter. Cores: H. G. Peter.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!