Rian Johnson nasceu no estado de Maryland, localizado no nordeste dos Estados Unidos da América. Ainda jovem, ele se mudou para San Clemente, na Califórnia, e foi onde passou grande parte da sua vida acadêmica. Depois de se formar no colégio, estudou cinema e televisão na Escola de Artes Cinematográficas da Universidade do Sul da Califórnia, terminando o longevo curso em 1996. No seu último ano de faculdade, para poder se formar, Johnson dirigiu, escreveu e editou o curta-metragem Evil Demon Golfball from Hell!!!. Em 2001, ele dirigiu e escreveu seu segundo curta, Ben Boyer and the Phenomenology of Automobile Branding. Nos anos seguintes, teve seu primeiro contato com um longa-metragem, escrevendo e dirigindo Brick, seu primeiro filme, estrelado por Joseph Gordon-Levitt; o longa venceu o prêmio do júri de originalidade e visão no Festival de Sundance.
Seu segundo filme, The Brothers Bloom, protagonizado por Mark Ruffalo, estreou em maio de 2009. No ano seguinte, ele dirigiu o episódio Fly da série de televisão Breaking Bad; dois anos depois voltou para a série, dirigindo outro episódio, Fifty-One. Mas seu trabalho de maior destaque na série de Vince Gilligan aconteceu em 2013, quando Johnson dirigiu o aclamado, e considerado por muitos como o melhor episódio da série, Ozymandias. Voltando em 2012, Rian dirigiu e escreveu seu terceiro longa-metragem, Looper, mais um trabalho com o ator Joseph Gordon-Levitt; o longa ainda contava com Bruce Willis, Emily Blunt e Paul Dano no elenco.
Em junho de 2014, o diretor foi anunciado na direção e roteiro do segundo filme da nova trilogia de Star Wars, o Episódio VIII. Johnson também escreveria o tratamento para o Episódio IX, que será dirigido por J.J. Abrams. O diretor teve um grupo de histórias trabalhando no longa, profissionais contratados pela própria Lucasfilm, sob comando de Kathleen Kennedy, para auxilia-lo no rumo que a aventura deveria seguir. Anunciado no começo desse ano com o subtítulo Os Últimos Jedi, o Episódio VIII é o primeiro filme da franquia a começar exatamente onde o anterior parou, além de ser também o filme mais longo da saga. Quando as filmagens já haviam se encerrado, a atriz Carrie Fisher, conhecida por interpretar a Princesa/General Leia Organa na franquia faleceu vítima de um ataque cardíaco. Essa crítica é dedicada a ela, assim como o filme foi.
Por Carrie…
A Resistência
A sinistra Primeira Ordem arquiteta o seu contra-ataque em direção à Resistência, após sofrer danos severos ao final de O Despertar da Força, tendo sua super-arma, a terrível Base Starkiller, destruída. Sob comandos do General Huggs… ops… General Hux (Domhnall Gleeson), a organização maléfica de remanescentes do Império Galático consegue seu primeiro triunfo: eles destroem por inteiro toda a Base da Resistência em Q’Dar, porém, para a alegria dos mocinhos, todos os membros da rebelião conseguem fugir. Durante a fuga, Poe Dameron (Oscar Isaac) tenta ganhar tempo para o escape de seus companheiros, sob comando da General Leia Organa (Carrie Fisher). Dameron usa todas as suas habilidades em pilotar uma x-wing e começa seu ataque aos destroyers da Primeira Ordem. O personagem de Oscar Isaac começa a demonstrar aqui um ímpeto egoísta, fugindo dos padrões clichês de altruísmo que vimos no filme anterior; por mais que seu individualismo se faça bastante presente na cena, onde ele desobedece uma ordem direta da General Leia e continua atacando as naves da Primeira Ordem, no fundo, suas atitudes são louváveis, mas nem por isso se tornam corretas. Por causa de sua atitude irresponsável, Poe ocasiona inúmeras mortes dos guerreiros da Resistência, e paga caro por isso, sendo rebaixado de cargo, pela própria General. Oscar Isaac mostra aqui porque é um excelente ator, e o primoroso texto de Rian Johnson consegue desenvolver o personagem com maestria, dando ele um novo escopo e uma nova visão para nós, espectadores. Ele não é mais o guerreiro certinho e correto do filme anterior; sendo, talvez, um dos maiores destaques do filme.
A General Leia de Carrie Fisher também é um dos grandes destaques do longa. Temos na película a primeira mostra de utilização direta da Força pela personagem, em uma cena lindíssima, de arrancar lágrimas, gritos e suspiros. Nos filmes anteriores, a Leia utilizava seus poderes apenas para comunicação, mas aqui não, ela mostra que realmente é um dos seres mais poderosos do universo, não por acaso tendo o sangue Skywalker correndo por suas veias. O Finn de John Boyega, novamente, se destaca em muitos momentos, entregando-nos algumas cenas bem engraçadas, agora na companhia da adorável Rose (Kelly Marie Tran). Marie é, sem dúvida, uma das grandes surpresas do filme, e tem uma ligação direta com uma das personagens que falece no início do longa, durante a batalha contra a Primeira Ordem.
Após o ataque, a última nave da Resistência parte na velocidade de luz, decidindo não arriscarem mais soldados, com medo de mais perdas desnecessárias. Porém, para a surpresa dos mocinhos, a Primeira Ordem consegue novamente localizá-los, usando, inicialmente e inexplicavelmente, um rastreio na mesma velocidade que a nave viajava. Agora, os heróis se encontram praticamente sem combustível, e precisam de um milagre para escaparem ilesos da fúria da organização dos remanescentes do Império Galático. Em um ato desesperado, Poe autoriza a partida de Finn e Rose da nave, para que eles consigam encontrar um Decodificador no planeta de Canto Bight; os mocinhos são auxiliados nesse plano por Maz Kanata (Lupita Nyong’o). Agora, ambos os personagens terão que correr contra o tempo, encontrar esse tal de Decodificador, e ir em direção à temorosa Force Friday, a nave do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), para que eles possam impedir que a Primeira Ordem continue rastreando a Resistência.
As sequências em Canto Bight são, talvez, os pontos mais baixos do filme, mas mesmo assim têm lá seus momentos de diversão e drama bem explorados. No peculiar planeta, repleto de seres riquíssimos, descobrimos que a fortuna dos indivíduos de maior poder aquisitivo da galáxia são originadas pela venda de armas e naves para a Primeira Ordem, traçando um paralelo com o papel dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Achei, deveras, interessante Rian Johnson tocar nesse tema, até porque, qual a maneira melhor de se ganhar muito dinheiro do que ajudando uma organização que quer dominar o universo a crescer? Nesse mesmo momento, somos apresentados a DJ, o personagem de Benicio del Toro, que, para a surpresa da maioria, aparece mais do que imaginávamos. Sua personalidade é cínica e mercenária, lembrando bastante os caçadores de recompensa da trilogia clássica — não está do lado dos mocinhos, nem do lado dos malvados; está do lado daqueles que pagarem mais.
Kylo Ren, Snoke e a Primeira Ordem
“Deixe o passado morrer. Mate-o se for preciso.” – Kylo Ren.
O Kylo Ren, personagem interpretado por Adam Driver, continua sendo impulsivo e confuso, mas mostra uma evolução considerável em relação ao filme interior. Sua determinação em abraçar o Lado Sombrio é mais forte, e o papel de Driver como o herdeiro legítimo de Darth Vader convence, embora não tenhamos seu ápice como um lorde Sith, ou Ren. O personagem caminha, aos poucos, para se tornar memorável, com um desenvolvimento atencioso constante e empolgante. Um ponto baixíssimo desse filme — ou dessa trilogia como um todo — é deixar de fora, novamente, os Cavaleiros de Ren, tão citados nos bastidores. Diferente de O Despertar da Força, aqui eles nem ao menos aparecem, deixando muitos fãs confusos quanto a sua importância. Afinal, quem eles são?
“Você é só uma criança mimada, usando um capacete ridículo.” – Snoke.
Agora vamos para aos pontos mais críticos desse filme: Snoke e a Primeira Ordem. O terrível Supremo Líder, personagem do excelentíssimo Andy Serkis, mais uma vez, não consegue ser explorado com eficiência e sua participação no filme é, sinceramente, bastante mal aproveitada e desentusiasmante. Em diversas entrevistas, Serkis chegou a dizer que o personagem possuía um poder inimaginável, podendo até ser mais poderoso que o Darth Vader de David Prowse e o Imperador de Ian McDiarmid, porém, infelizmente, isso fica longe de ser mostrado em tela. Assim como os citados Cavaleiros de Ren, Snoke não mostra a que veio, e possui uma aparição rápida e confusa. Primeiro, assim como Serkis ressaltava nas entrevistas, o personagem se mostrou muito poderoso e imponente, praticamente invulnerável, um manipulador nato, usuário exímio da Força, porém, em outro momento, parece que tudo isso é jogado para cima e desconsiderado. Se os acontecimentos envolvendo o personagem se perpetuarem pela história do Episódio IX, talvez esse terá sido o personagem mais desinteressante e desperdiçado dessa trilogia.
A Primeira Ordem, embora tenha seus momentos de brilho, é, assim como o Snoke, outro ponto fraco do longa. Sua existência novamente não é explorada e fica a cargo do espectador buscar informações em livros ou quadrinhos derivados desse universo — o que, sinceramente, é uma falta de respeito, já que o filme tem que funcionar por si só, e o material extra deve servir apenas para complementar o que foi mostrado em tela, e não para dar informações importantes que ficam de fora da história. Enquanto o Império era igualmente confuso durante a trilogia clássica de Guerra Nas Estrelas, a Primeira Ordem acaba caindo no mesmo carma, embora os filmes antigos pincelem uma coisa ou outra sobre a origem e formação da regência maligna, o que não acontece aqui, em nenhum dos dois filmes até agora. Seguindo esse mesmo princípio, o que acontece na Nova República também é deixado de lado, assim como sua negligência em tentar deter essa ameaça que permeia a galáxia, repleta de perigosos seres, aspirantes a imperiais.
Os famosos stormtroopers aparecem bem menos sessa segunda parte da trilogia, mas a Capitã Phasma de Gwendoline Christie possui mais brilho do que na história pregressa. Phasma aparece depois da metade do filme, tendo seu próprio momento de tela, em uma luta de tirar o fôlego contra o personagem de John Boyega, porém, assim como o Snoke, é novamente desperdiçada, possuindo uma última cena duvidosa e desentusiasmante.
Os Últimos Jedi
“Quando eu me for, o último Jedi você será. Passe adiante o que você aprendeu, Luke.” – Mestre Yoda, em O Retorno de Jedi.
Finalmente falarei daquele que mais instigou os pensamentos e teoria dos fãs: Luke Skywalker. Fico feliz em informar que essa é a melhor performance de Mark Hamill no papel, nos entregando um personagem envelhecido e, ao mesmo tempo, ainda muito poderoso com a Força. O ator está mais à vontade do que nunca no papel e seus momentos de destaque são de arrepiar, fazendo os fanáticos mais árduos da franquia terem vontade de socar o ar, bater palmas e gritar — gritar muito. Absolutamente todos os seus momentos são fantásticos, e sua vivência na Ilha de Ahch-To, onde o primeiro Templo Jedi foi construído, é um deleite à parte. Sua caça e extinto de sobrevivência são fatos extremamente peculiares, que acrescentam novos estilos e conceitos para a franquia.
Seu famoso sabre, herdado de seu pai, Anakin Skywalker, que foi tão falado e teorizado durante todo esse tempo nem se mostra algo relevante para a história, ao final de tudo. Simples e facilmente, o objeto não tem importância alguma durante todo o filme, exceto em pertencer agora, definitivamente, à Rey.
“Eu preciso que alguém me mostre meu lugar em tudo isso.” – Rey.
Nossa querida e apaixonante Daisy Ridley volta a dar vida à Rey, antiga sucateira, abandonada pela família no desértico planeta de Jakku, e agora padawan do último Jedi de toda a galáxia. Ridley, como no filme anterior transcende carisma e força de vontade, continua sendo aquela personagem que amamos conhecer, só que dessa vez elevada a um outro nível. Se no papel Daisy Ridley já se mostrava alguém muito poderosa, podemos dizer que nesse novo capítulo ela está dando seus primeiros passos para canalizar e treinar todo esse poder. A garota pede orientação a Luke, que desdém de sua figura e, inicialmente, nega tais treinamentos. Eis que o R2-D2 o convence de dar uma chance à garota e ajudar, de alguma forma, a rebelião contra Ren. Toda a cena onde o dróide convence seu antigo dono a treinar a Rey é belíssima, e faz uma homenagem direta a Uma Nova Esperança — podemos catalogá-la como, por ordem cronológica, a segunda cena em que os fãs deixam um pequeno suor escorrer pelos olhos.
Rey, embora determinada em aprender sobre a Força, se mostra uma aluna um pouco ainda confusa. Em um determinado momento, a garota faz exatamente o que Luke não queria que fizesse, fazendo o Jedi temer mais ainda ensiná-la a expandir seus poderes. Porém, depois que consegue as informações que precisa, ela se mostra alguém que sabe, mesmo correndo perigo, distinguir o certo do errado, sendo muito mais segura de si do que Kylo Ren. Ao final de tudo, quem é ela e quem são seus pais nem são tão importantes assim. Ela é a dona do seu próprio passado.
Os efeitos especiais do filme estão primorosos, todas as cenas da história parecem querer mostrar um ângulo novo, ou simplesmente uma possibilidade nova de se explorar o universo de Star Wars, com paisagens, criaturas e cenários maravilhosos. Tudo isso se deve à linda e marcante fotografia de Steve Yedlin, em conjunto com a direção firme e competentemente entusiasmada de Rian Johnson; o diretor transcende confiança naquilo que faz, seja no roteiro ou atrás das câmeras. Um fã, levando a outros fãs uma aventura completamente nova e ousada, cheia de mistérios e revelações. Falando nos segredos, fiquem tranquilos quanto aos trailers e campanhas de marketing em geral que o filme possuiu, já que absolutamente nada da trama foi disponibilizada nas prévias — apenas um pedacinho do plot básico, é claro. Cenas como a batalha final no planeta gélido de Crait, que mistura tons de vermelho, preto e branco em uma combinação exuberante; uma nave quebrando outra no meio, após viajar na velocidade da luz; e, principalmente, de utilização máxima dos poderes da Força com certeza ficarão para sempre marcadas no imaginários dos fãs — e por que não do público em geral?!
A trilha sonora de John Williams melhora em relação à anterior, e mantém um nível de excelência, reinterpretando temas clássicos e adicionando novos, que com certeza podem te arrepiar a qualquer momento. Os personagens secundários, assim como em quase todos os Star Wars, convencem, encantam, ou simplesmente estão lá para nos emocionar, ajudando na jornada dos demais participantes da história. O C-3PO de Anthony Daniels ao lado do R2-D2, dessa vez interpretado por Jimmy Vee, fazem pequenas pontas, sem exageros, assim como o Chewbacca de Peter Mayhew e Joonas Suotamo. O BB-8 novamente arranca algumas gargalhadas e suspiros, já que continua sendo o dróide mais fofo e apaixonante da galáxia. O filme ainda conta com uma participação muito especial de um querido personagem, fazendo, novamente, muitos marmanjos voltarem a ser crianças e chorarem — chorarem muito — de alegria e emoção. Os Porgs também são adoráveis, e não estão em tela apenas para serem fofos e venderem brinquedos — quer dizer, estão… mas não estão ao mesmo tempo; já que eles têm uma certa “importância” para quem vive em Ahch-To.
É com uma imensa alegria e satisfação que eu digo que Star Wars: Os Últimos Jedi é um dos melhores, se não o melhor, Star Wars até agora. Possivelmente iremos para uma nova direção no Episódio IX, mostrando, além de uma evolução narrativa, uma evolução e desprendimento do passado. A hora das homenagens acabou, e essa galáxia muito, muito distante, ainda revela uma riqueza de possibilidades sem tamanho. O competente Rian Johnson escreverá e dirigirá toda a próxima trilogia de Guerra Nas Estrelas, que, como já anunciado, será uma história à parte, sem compromissos com a saga dos Skywalkers. O que eu tenho a dizer sobre isso? Não posso estar mais empolgado. Aos que assistiram, me digam aí nos comentários se esse cara merece ou não uma trilogia só pra ele! Pessoal, tentem respeitar ao máximo e não comentar revelações da trama sem a tag de spoilers aí em baixo. Vamos manter a magia e a surpresa para os que ainda não assistiram, já que isso, hoje em dia, é a coisa mais rara que existe no cinema.
Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi (Star Wars – Episode VIII: The Last Jedi) – EUA, 2017, cor, 152 minutos.
Direção: Rian Johnson. Roteiro: Rian Johnson. Produção: Kathleen Kennedy e Ram Bergman. Música: John Williams. Cinematografia: Steve Yedlin. Elenco: Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Kelly Marie Tran, Lupita Nyong’o, Billie Lourd, Domhnall Gleeson, Anthony Daniels, Jimmy Vee, Gwendoline Christie, Peter Mayhew, Joonas Suotamo, Andy Serkis, Benicio del Toro, etc.