Muita gente não acredita nisso, mas George Lucas afirma que sempre quis contar a história de Star Wars em seis filmes, fazendo dessa franquia uma mega-saga. A verdade é que, lá pro final dos anos 80 e início dos anos 90, Star Wars já não tinha a força que um dia possuiu. O mechandising junto aos licenciamentos de produtos não estavam sendo tão rentáveis quanto antes e a franquia começou a perder um pouco de força. Somado a esse fato, o divórcio de Lucas com sua esposa Marcia em meados dos anos 80, secou todas as suas fontes financeiras e o diretor quase veio à falência. Mostrado todos esses fatos, é difícil de não relacionar tudo isso com a ideia do novos episódios de Guerra Nas Estrelas. Existem aqueles que acreditam na ganância de Lucas, que ele queria mesmo era encher seu bolso de dinheiro novamente.
Nos vários making-offs de A Ameaça Fantasma nos é mostrado que o diretor e criador da saga, na verdade, tinha rascunhos antigos com vislumbres do que poderia ser essa história prelúdio. Cenas deslocadas, que não conversavam entre si. Sua ideia inicial era contar apenas uma história, fazer um filme que se relacionasse ao final com a trilogia clássica. Por fim, o criador resolveu deixar essa ideia simples de lado e focar em uma nova trilogia, que contaria toda a jornada de Anakin Skylwaker até se tornar o terrível Darth Vader. Em decorrência disso, chegou aos cinemas norte-americanos em 1999 Star Wars: A Ameaça Fantasma. O primeiro desses duvidosos capítulos se passaria 32 anos antes dos eventos vistos em Uma Nova Esperança.
A franquia, embora andasse um pouco esquecida pelos cinéfilos de plantão da época, voltou com tudo. Os adultos faltavam ao trabalho e as crianças matavam aula; as filas para pegar uma das sessões do filme dobravam quarteirões, e várias matérias televisivas sobre o evento foram produzidas. O sucesso dessa volta triunfal aos cinemas da saga foi refletida na bilheteria, fazendo o filme arrecadar mais de um bilhão de dólares ao redor do mundo. Vale lembrar que os fãs de longa data de Guerra Nas Estrelas não tinham nada mais, no cinema, relacionado à franquia desde 1983, então toda a loucura e ansiosidade poderiam muito bem ser entendidas pelas pessoas fora desse ciclo. O mundo todo estava impressionado com a grandiosidade da Força que essa saga ainda possuía (gostaram do trocadilho?). Fato é que, todos esses três capítulos foram, para uma grande parcela dos fãs, decepcionantes. Talvez seja pela alta expectativa criada por todo mundo em volta dessa história, ou simplemente porque George Lucas já não era mais o cara talentoso de antes; o diretor estava há mais de 20 anos sem dirigir filme algum.
Toda a história que cerca essa nova trilogia de Guerra Nas Estrelas possui uma forte trama política, vista por muitos como desinteressante e chata durante diversos momentos. O problema em si não é falar sobre governos, tratados e organizações, mas sim a forma como elas são inseridas no meio da história. Para um filme relativamente infanto-juvenil, se isso não é colocado de uma forma superficial e convidativa, desperta certos sentimentos de confusão e desapontamento. Talvez ninguém queira saber sobre os tratados de comércio ou suas ramificações, assim como seus desdobramentos.
Outro fato desconcertante é a superutilização dos esclarecimentos que, sinceramente, talvez ninguém quisesse saber. É fato que essa segunda trilogia possui explicações demais, como por exemplo: quem criou o C-3PO, onde descobrimos nesse primeiro filme que seu criador foi o próprio Anakin, tonando o dróide uma espécie de meio-irmão de Luke e Leia (já tinham parado para pensar nisso?); o real significado/exemplificação da Força, onde nos é mostrado que toda a explicação poética de Obi-Wan no Episódio IV, sobre ela ser um campo místico que liga todos os seres vivos e une a galáxia, na verdade é desconsiderado e, no lugar dela, é dito que a Força na verdade é baseada na quantidade de midi-chlorians de um ser; e também, existem aqueles que se questionam se existia mesmo a real necessidade de se contar toda a jornada de Anakin Skywalker até se tornar Darth Vader. Enfim, compartilhando ou não desses pensamentos, fato é que os Episódios I, II e III de Star Wars dividiram muitas opiniões.
A confusa e entediante história
A história se passa 32 anos antes da Batalha de Yavin, que marcou a destruição da primeira Estrela da Morte. O mestre Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu aprendiz, o jovem Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), são enviados para negociar com a Federação de Comércio um meio de acabar com o bloqueio comercial ao planeta Naboo. Darth Sidious (Ian McDiarmid), um lorde Sith e conselheiro secreto da Federação de Comércio, ordena que seus aliados matem os Jedi e invadam Naboo com um exército de dróides de batalha. Os Jedi escapam e fogem para Naboo, onde Qui-Gon salva inadvertidamente um gungan nativo do planeta, Jar Jar Binks (Ahmed Best), de ser morto durante a invasão. Com uma dívida com os Jedi, Jar Jar leva-os a Gunga City, uma cidade subaquática. Os Jedi tentam em vão convencer o líder Gungan, Chefe Nass, em ajudar o povo de Naboo, embora eles consigam obter transporte para Theed, a capital na superfície. Eles resgatam a rainha Amidala (Natalie Portman), a governante do povo de Naboo, e escapam do planeta em sua nave espacial real, que é danificada quando eles passam pelo bloqueio da Federação.
A nave de Amidala é incapaz de sustentar seu hyperdrive e é feito um pouso de emergência no planeta desértico e isolado de Tatooine. Qui-Gon, Jar Jar, o droíde astromecânico R2-D2 (Kenny Baker) e Amidala (disfarçada como Padmé, sua serva) visitam o assentamento de Mos Espa para comprar novas peças em uma loja de sucata. Reúnem-se com o proprietário da loja, o alien Watto, e seu escravo de nove anos de idade, Anakin Skywalker (Jake Lloyd), que mesmo sendo apenas uma criança humana já é um talentoso piloto e engenheiro e criou um droíde de protocolo chamado C-3PO (Anthony Daniels). Qui-Gon sente uma forte presença da Força dentro de Anakin e está convencido de que ele é O Escolhido da antiga e famosa profecia Jedi, o responsável por trazer equilíbrio à Força. Qui-Gon aposta a liberdade de Anakin com Watto em uma Podracer (corrida de pods), que Anakin ganha. O jovem Skywalker então se junta ao grupo para ser treinado como um Jedi, deixando sua mãe, Shmi (Pernilla August), para atrás. A caminho de sua nave, Qui-Gon duela brevemente com Darth Maul (Ray Park), aprendiz de Darth Sidious, que foi enviado para capturar Amidala.
Os Jedi escoltam Amidala até a capital da República, Coruscant, para que ela possa invocar o caso de seu povo ao chanceler e ao Senado Galáctico. Qui-Gon solicita ao Conselho Jedi a permissão para treinar Anakin como um Jedi, mas o Conselho, preocupado com o fato de Anakin ser vulnerável para o Lado Negro da Força, recusa. Determinado, Qui-Gon diz que irar treinar Anakin de qualquer maneira. Enquanto isso, o senador de Naboo, Palpatine (representado anteriormente na figura de Darth Sidious), convence a jovem Rainha Amidala a fazer um voto de não confiança no chanceler para que pudessem ser feitas novas eleições para o cargo, e o eleito teria de ser mais capaz de resolver a crise em Naboo do que o atual chanceler. Embora ela hesite no momento da votação, Amidala fica frustrada com a corrupção no Senado e decide voltar a Naboo com os Jedi. Agora, uma grande batalha está prestes a acontecer.
A Ameaça Fantasma sofre muito pela falta de uma linha narrativa principal, que levará os personagens de um lugar a outro, fazendo-os passar por evoluções e aprendizados; além de, também, perecer de um bom protagonista; o personagem de Liam Neeson é o que mais chega perto dessa alcunha, embora o mesmo seja, como todos os outros personagens desse filme, descartável e sem uma única peculiaridade. Sofrendo com uma história desinteressante e chata em diversos momentos, os atores não possuem muito tempo para brilhar. Ewan McGregor, Natalie Portman e o próprio Liam Neeson são os únicos que conseguem entregar atuações decentes; o roteiro não ajuda nem um pouco os outros profissionais do ramo a prosperarem. O que mais sofre com tudo isso é o jovem Jake Lloyd, e consequentemente seu personagem. Lloyd é pequeno e despreparado, necessitando na maioria das cenas de um diretor que o ajudasse a trabalhar em seu papel, coisa que George Lucas não faz. Os vilões do filme, diferente de todos os outros que vieram antes, não são memoráveis; o personagem de Ray Park, embora seja estiloso e visualmente atraente e impressionante, é genérico, entra mudo e sai calado, e só foi ganhar uma certa importância quando foi ressuscitado, anos depois, em histórias que ainda não vimos no cinema e pertencem apenas ao universo expandido.
Mestre Yoda e Mace Windu, representados respectivamente por Frank Oz e Samuel L. Jackson são completamente subaproveitados e não fazem nada além de andar e conversar turante todo o longa. O alívio cômico do filme, Jar Jar Binks, interpretado pelo ator Ahmed Best é, talvez, uma das coisas mais ridículas de toda a franquia (ao lado dos Ewoks que deram às caras no Episódio VI). O personagem não tem graça e é incrivelmente retardado. Com seus trejeitos atrapalhados, Binks lidera todas as cenas de vergonha alheia do longa, não conseguindo divertir nem as crianças. As batalhas totalmente em CGI do filme também prejudicam o aproveitamento da película, já que não possuem peso e o espectador praticamente as ignora. Sem contar nos erros de continuidade e enxertos que o longa utiliza, para que sua duração seja mais longínqua, como por exemplo: a repetição de cenas onde os Jedi, sem nenhuma dificuldade, destroem os dróides patéticos do exército inimigo; Anakin Skywalker entrando em uma nave de batalha e achando um capacete do tamanho exato de sua cabeça; etc.
Ao menos a trilha sonora de John Williams consegue empolgar. O compositor aqui, novamente, faz um trabalho magistral e entrega mais algumas icônicas faixas para a franquia (e para o cinema). Com uma direção preguiçosa, um roteiro desanimador e personagens longe de transmitirem algum carisma, A Ameaça Fantasma (título que hora nenhuma é explicado durante o filme; o que, de fato, é essa Ameaça Fantasma, pessoal?) se consolidou na mente de muitos fãs como o pior filme de toda a franquia de Star Wars.
Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma (Star Wars – Episode I: The Phantom Menace) – EUA, 1999, cor, 136 minutos.
Direção: George Lucas. Roteiro: George Lucas. Produção: Rick McCallum. Música: John Williams. Cinematografia: David Tattersall. Elenco: Liam Neeson, Ewan McGregor, Natalie Portman, Jake Lloyd, Ian McDiarmid, Ahmed Best, Ray Park, Anthony Daniels, Kenny Baker, Pernilla August, Frank Oz, etc.