A indústria cinematográfica sempre careceu de bons filmes de piratas. Historicamente falando, é difícil encontrar alguma produção memorável desse gênero. Em 2002, a Walt Disney Pictures resolveu apostar em um filme dessa espécie, baseado em um brinquedo bem famoso e elogiado de seu parque, Os Piratas do Caribe. Arriscando uma história totalmente autoral, não sendo adaptação de nenhum outro meio, como livro, quadrinhos e etc., a produção de A Maldição do Pérola Negra teve início. Estreando em 2003, o filme, que teria uma pegada de ação, aventura e comédia, foi um sucesso absoluto de bilheteria e crítica, sendo até indicado a cinco categorias no Oscar: Melhor Ator, Melhor Maquiagem, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais.

Um pequeno clássico

Bem, já podemos chamá-lo assim, não é mesmo? O filme dirigido por Gore Verbinski e produzido por Jerry Bruckheimer conta a jornada do excêntrico Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) e o ferreiro Will Turner (Orlando Bloom) enquanto eles tentam resgatar a jovem Elizabeth Swann (Keira Knightley) da tripulação amaldiçoada do navio Pérola Negra, comandada pelo terrível Capitão Hector Barbossa (Geoffrey Rush).

“Vis e dissolutas criaturas, todos eles. Pretendo fazer com que todo homem navegando sob uma bandeira pirata, ou marcado como tal, tenha aquilo que merece: um fim bem rápido e sem clemência.”

Dando vida ao protagonista do filme, Johnny Depp, que já havia interpretado personagens conhecidos e icônicos do cinema, como Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood (ambos em filmes de mesmo nome, dirigidos por Tim Burton) e Roux, no romance Chocolate, de Lasse Hallström; retorna mais talentoso do que nunca. Seu personagem é engraçado e carismático, fazendo-nos afeiçoar por ele desde a icônica primeira cena que aparece, quando à bordo de um pequeno bote (que está quase afundando devido ao furo que tem em seu casco) mostra toda a imponência de um verdadeiro capitão pirata. O ator também consegue entregar ótimas sequências de ação, que se tornaram memoráveis nas lembranças dos fãs da franquia. O papel do nosso querido e peculiar Jack rendeu a Depp a primeira de suas três indicações ao maior prêmio da academia, no ano seguinte.

Os personagens de Orlando Bloom e Keira Knightley formam o par romântico do filme, que no início da história possuem uma queda um pelo outro, mas como são de classes monetárias bem diferentes não podem ficar juntos. A química entre os jovens atores funciona e passa credibilidade ao espectador. Toda a jornada da trama, no final, se faz valer a pena. O Capitão Hector Barbossa do excelente Geoffrey Rush rouba muitas das cenas que aparece, e sem dúvida é um dos destaques do longa. O ator entrega uma atuação digna de um poderoso e temido pirata amaldiçoado, e quando contracena com Depp, rende excelentes e inesquecíveis momentos.

Além dos citados, temos ótimas atuações de Kevin McNally e Jack Davenport. O primeiro interpreta Joshamee Gibbs, o principal oficial de Sparrow e também seu melhor amigo, que em alguns momentos inclusive serve como alívio cômico; e o segundo interpreta um dos principais rivais do personagem de Depp no filme, o comodoro James Norrington. Como parte da tripulação amaldiçoada de Barbossa, temos dois peculiares personagens, Pintel (Lee Arenberg) e Raguetti (Mackenzie Crook), que também servem, na maioria do tempo, como alívios cômicos. Ambos os atores dão personalidades carismáticas aos personagens e destacam-se em várias cenas.

A aventura medonha e inesquecível

“Você viu um navio com velas negras, com uma tripulação amaldiçoada e um comandante tão mal, mas tão mal, que o próprio inferno expulsou ele de lá?”

Indo para Port Royal após um chamado de um dos 882 medalhões piratas amaldiçoados, que anos atrás ficou de posse do jovem William Turner, o Capitão Hector Barbossa sequestra erroneamente a jovem Elizabeth Swann, filha do governador e atual noiva do Comodoro Norrington. Will Turner, apaixonado pela garota, se junta ao infame Capitão Jack Sparrow rumo ao resgate da dama, passando por inúmeras complicações e atos heroicos duvidosos no meio do caminho.

“Uma arma sem balas adicionais ou pólvora. Uma bussola que não aponta para o norte. Pensei que sua espada fosse feita de madeira… Você é sem dúvida o pior pirata de quem já ouvi falar.”

Jack, como um bom charlatão que é, usa Will como uma ponte para chegar ao seu amado navio Pérola Negra, no intuito de tomá-lo para si. Com a ajuda de Gibbs, seu fiel escudeiro, Sparrow recruta uma nova tripulação e parte, auxiliado por sua bussola nada convencional, para a Isla de Muerta, local onde o pirata acredita que Barbossa está.

“O luar mostra como realmente somos. Não estamos entre o vivos, por isso não podemos morrer; mas também não estamos mortos.”

Elizabeth, durante os instantes que fica aprisionada no Pérola, descobre que o navio possui toda a sua tripulação amaldiçoada, da qual dependem exclusivamente do sangue de Bootstrap Bill Turner, o falecido (como eles imaginavam) pai de Will. Elizabeth, para proteger sua cidade e o jovem Turner, mentiu para os homens do navio e acabou se envolvendo numa situação que fugiu de seu controle. Agora, instigado em livrar-se da maldição, Barbossa não descansará até encontrar o verdadeiro herdeiro do sangue de Bootstrap Bill.

Produção de ponta, com uma trilha sonora icônica

A produção desse filme é de tirar o chapéu. Figurino e caracterizações perfeitas, das quais fazem nos sentir realmente dentro daquele mundo estranho e um tanto quanto arcaico. Muitas das coisas foram feitas com efeitos práticos, demandando efeitos especiais e visuais somente na maioria das cenas de cunho sobrenatural. Navios de verdade foram construídos e as locações escolhidas nos remetem aos paraísos idílicos de nosso planeta. Os já citados efeitos especiais e visuais incomodam um pouco nos dias de hoje, visto que o filme foi produzido há mais de dez anos, e possui algumas cenas visualmente datadas (como acontece com vários blockbusters que exageram na utilização desse tipo de tecnologia). Incomodam, mas não atrapalham, pois como já disse anteriormente, esses efeitos são usados em poucas partes do filme.

Outro detalhe importante é a trilha sonora empregada no longa. Composta pelo vencedor do Oscar, Hans ZimmerA Maldição do Pérola Negra ficou marcado por muitos devido aos vários temas icônicos feitos pelo artista para integrar o filme. Zimmer faz aqui um dos melhores trabalhos de sua carreira, sendo indignamente não indicado ao Oscar do ano seguinte. Fala sério, é impossível escutar temas como He’s a PirateFog BoundSkull and Crossbones, entre outras e não se sentir motivado ou ligá-las instantaneamente à franquia (até para os que nunca assistiram aos filmes).

Existem muitos motivos para Piratas do Caribe ser a gigante franquia que é hoje, coisas que foram principalmente construídas e apresentadas nesse primeiro capítulo. Com certeza essa é uma obra cinematográfica que entrou para a história do cinema, não só por ser um excelente filme de piratas, mas por ser também uma das melhores produções de aventura. A sequência do filme, intitulada como O Baú da Morte, conseguiu ser ainda melhor que o original, por dotar de um dos maiores e mais inesquecíveis vilões do cinema, o maquiavélico apaixonado Davy Jones. Mas esse é um assunto para outro post…

Agora, subam à bordo de seus respectivos navios, cavalheiros. Icem as velas e tracem o curso para Tortuga! Bebei, amigos, Yo-Ho!

Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl) – Estados Unidos, 2003, cor, 143 minutos.
Direção: Gore Verbinski. Roteiro: Ted Elliott e Terry Rossio. Música: Hans Zimmer. Produção: Jerry Bruckheimer. Direção de arte: Brian Morris. Direção de fotografia: Dariusz Wolski. Edição: Craig Wood, Stephen Rivkin e Arthur Schmidt. Elenco: Johnny Depp, Geoffrey Rush, Orlando Bloom, Keira Knightley, Jack Davenport, Kevin McNally, Zoe Saldana, Jonathan Pryce, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, etc.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!