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18NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS

Gêneros: Drama (Tragédia), Suspense.
Contém: Linguagem Imprópria, Assassinato, Mutilação.

Aviso!
Os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a pessoas reais e nenhuma das situações e personalidades aqui encontradas refletem a realidade, tratando-se esta obra, de uma ficção.

PUNIÇÃO

“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aquelas que permitem a maldade.” – Albert Einstein.


Era uma fria noite de inverno, a neve caía do céu lentamente e seus flocos gélidos suavizavam como pequenos pedaços de papel sobre um forte vento. Os olhos castanhos de um homem branco abriam-se, não enxergando nada, além de uma negritude interminável. Sobre suas pálpebras havia um pedaço de pano preto o vendando, não fazendo-o reconhecer o lugar em que estava — um galpão abandonado, de localização inóspita. Seus fios longos e envelhecidos ensebavam seu couro cabeludo, jogados para trás grosseiramente. Todas as suas vergonhas estavam expostas, junto com a barriga fora de forma e a pele pálida arrepiando com as curtas correntes de ar que adentravam o local. Sua nudez vinha acompanhada por uma grande corda passando por todo o seu corpo, e uma mordaça feita com tecido velho — e fedorento — tampando sua boca fina. Em seu pescoço, o indivíduo sentia uma dor interminável, provocada por uma pequena picada de agulha — de onde passou o líquido calmante que o fez desanimar. Suas mãos estavam amarradas, sob o encosto da cadeira que apoiava seu peso, envolvendo seus punhos com ferocidade, ferindo parcelas mínimas de sua epiderme punhal.
ㅤㅤSeus sensíveis ouvidos nada captavam, além da calmaria provida pela nevasca tranquila lá fora, agonizando-o e fazendo-o ficar ainda mais desesperado. O silêncio praticamente fúnebre foi quebrado por passos lentos e pacatos, pertenciam a alguém que agonizava uma paciência ímpar, incrivelmente peculiar e rara. O som decadente dos passos tornaram-se cada vez mais altos e a presença do ser até então irreconhecível teve ainda mais significado. Com aspecto incrivelmente sereno, a pessoa dispunha de uma formosura única, suas costas demostravam uma postura correta, enquanto seu timbre vocal, em vez de ameaçador e feroz, mostrava-se doce, com um ar de jurisprudência própria.
ㅤㅤ— Aposto que sabe por que você está aqui. Nesta situação — seu hálito edulcorado foi sentido pelas narinas abertas do homem, tentando arrancar qualquer tipo de informação ou detalhe. — Só quero deixar claro que não há escapatória. Tudo termina, finalmente, esta noite.
ㅤㅤSua voz parecia minimamente familiar, embora não possuísse uma certeza concreta de quem a pessoa, até então sem face, era. O homem pareceu se desesperar ainda mais, começando a fazer barulhos incessantes com a boca, de modo que sua mensagem era impossivelmente compreendida, devido à mordaça emoldurada sobre seu rosto com tamanha eficácia. Detentora de um poder praticamente interminável, a misteriosa pessoa decidiu mover suas finas mãos em direção à cavidade bocal do indivíduo nu, retirando com um aspecto meigo — porém carregado de desprezo — o tecido imundo d’entre seus dentes imperfeitos.
ㅤㅤ— Quem é você? — perguntou rapidamente, sem saber se a mordaça seria recolocada em sua boca logo em seguida. Questionou assiduamente, embora ainda tivesse a impressão de conhecer seu brado — O que você quer? — seus lábios tremiam com tamanha confusão. — O que eu fiz?
ㅤㅤA pessoa deu uma leve risada, abrindo um dos cantos da boca, forçando uma atitude complacente e irônica. ㅤㅤSeu contra-argumento veio logo em seguida, repleto de deboche.
ㅤㅤ— Quantas perguntas o senhor está fazendo… — continuou a rir forçadamente. — A única coisa que te peço é calma, velho. Relaxe, pois a noite está apenas começando… e minha diversão também.
ㅤㅤO homem expressou um enorme e grandioso berro, rogando desoladamente por ajuda, socorro e, quem sabe, misericórdia. O medo e a confusão adentrando seus pensamentos, podendo, sim, saber porque se encontrava ali, naquele lugar, exposto àquela maldita situação.
ㅤㅤ— Grite o quanto quiser — disse a pessoa misteriosa — Ninguém pode te ouvir — coçou seu nariz repleto de pequenas sardas, delicadamente. — E duvido muito que alguém o ajudaria visto o que sei sobre você.
ㅤㅤ— Se ninguém pode me ouvir, por que me amordaçou? — perguntou o homem, com lágrimas singelas descendo sobre seu rosto pálido, desprovido de doçura, acompanhadas por um ranger de dentes, demostrando uma raiva interior poderosa.
ㅤㅤNão houve resposta momentaneamente. Apenas um silêncio interminável, porém ensurdecedor ao mesmo tempo.
ㅤㅤ— ME RESPONDE, DESGRAÇA! — Bradou bem alto o homem, inconformado, ansioso por sanar sua dúvida.
ㅤㅤ— Eu não queria ouvir sua voz nem mais uma vez, velho. Mas decidi recorrer em minha decisão — dessa vez abriu seus lábios e mostrou os dentes com grado — Adorarei ouvir seus gritos enquanto arranco toda a pele de seu nojento corpo — Finalizou, passando a mão na alva do homem, sua antiga vestimenta, que ela mesma retirou quando desnudou teu corpo.
ㅤㅤ— Por favor… eu tenho certeza que não quer realmente fazer isso — tentou insistir, clamando por compaixão. — Deixe-me lhe ajudar. Eu poss…
ㅤㅤO homem foi interrompido pelo som de uma faca sendo tirada da mesa metálica perto de onde se encontrava amarrado. Aquelas agudas e angustiadas ondas reverberaram pelo galpão, ecoando entre suas paredes distantes e dando um ar ainda mais macabro para o que viria a seguir.
ㅤㅤ— Por favor… não faça isso! — exaltou o homem, com as esperanças quase esvaindo de tua mente — É dinheiro que você quer? — tentou, inteligentemente, usar a alternativa mais fácil. — É? Me diga quanto! Eu posso conseguir mais rápido do que imagina.
ㅤㅤ— Isso não se trata de dinheiro, velho. Não existe quantia que pague, ou apague, o que você foi capaz de fazer — suspirou por um momento, relembrando de seu passado cruel. — Não existe.
ㅤㅤ— Ah, meu Deus — ele começou a proferir, chamando teu Senhor rumo a seu encontro. — Ah, Cristo. Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venh…
ㅤㅤMais uma vez o homem foi interrompido, agora sendo calado pela mão direita da pessoa misteriosa, coberta por uma luva de couro cheirando a nova, trancando sua boca com força e empenho. Sua saliva robusta escorria entre as frestas dos dedos cobertos pelo calçado manual negro e suas bochechas inchavam de um oxigênio sem vasão.
ㅤㅤ— Cale a boca! — inquiriu, com os nervos à flor da pele. — Pare de rezar. Nós dois sabemos que isso nunca ajudou ninguém. Deus está bem longe neste momento, e duvido que faria qualquer coisa para tirá-lo daqui.
ㅤㅤMais uma vez ergueu suas mãos macias, agora em direção às vistas do sujeito, retirando sua venda com uma extrema paciência, encarando-o posteriormente nos olhos, com um olhar tomado pelo ódio e pelo nojo. Ambos entreolharam-se durante longos segundos, enquanto relembravam juntos de memórias pregressas, refletindo sobre os vários momentos — cruéis e não-benevolentes — que passaram juntos durante muitos e muitos anos. O indivíduo em posição inferior não conseguiu segurar as lágrimas, deixando que elas descessem com mais velocidade e carga, abrangendo grande parte de seu rosto tomado por rugas. A misteriosa carne havia retirado sua venda por puro e virtuoso prazer, observando os detalhes de seu arrependimento e a escassez de suas esperanças no momento. O homem deu uma olhada geral à sua volta, viu um tripé de partituras musicais repleto de fotografias horrendas, atos de sua responsabilidade, contra aquela — agora, como ele, cruel — pessoa. Ele reconheceu e vislumbrou em seu cérebro cada um daqueles momentos terríveis, tendo agora todas as respostas que almejava.
ㅤㅤOs olhos maravilhados e realizados do indivíduo misterioso transpareciam uma conquista imensurável, proferida por uma eventual vingança pessoal, há anos planejada e idealizada. Seu olhar sanguinário personificava o do próprio Demônio, misturado com as vistas de um lindo anjo magoado. Chegada a hora do homem, era.
ㅤㅤ— Você… — escaparam palavras quase inaudíveis de sua boca, com o pouco de voz que lhe restava.
ㅤㅤ— Aguente firme. Guarde suas cordas vocais para os gritos que produzirá a partir de agora — vociferou a pessoa, agora finalmente reconhecida pelo homem. — Começarei pelas pernas, como o senhor gosta.
ㅤㅤComo um grande artista, ela começou seus retalhos sobre a epiderme do velho, movimentando sua faca com maestria e frieza, aproveitando cada momento, sentindo cada pontada e corte como um contentamento extraordinário. Tudo o que cercava o galpão agora eram os berros de dor da vítima sem escapatória e sua seiva vermelha-escura escorrendo por seu corpo em direção ao solo. Seus pedaços foram partidos e separados, organizados e limpos, como se o assassinato requeresse um vasto conhecimento e habilidades impróprias; uma vingança, saboreada ao máximo, durante cada milésimo de segundo.

Continua…


Observação: Essa é a primeira parte, de um total de três, ambientadas na mesma história. Leia a continuação aqui: Pós-Morte.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!