Asilo Arkham: Uma Séria Casa em um Sério Mundo foi uma história originalmente publicada em 1989, escrita por Grant Morrison e ilustrada por Dave McKean. O quadrinho figura entre os mais incomuns do Homem-Morcego; sua peculiaridade se encontra nas belíssimas ilustrações/designs, incrivelmente fabulosas e perturbadoras de McKean, e no roteiro completamente maluco (e genial) de Morrison. É uma história que mexe muito com o psicológico, tanto do Batman, quanto de seus inimigos, em especial o Coringa.

“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice.
“Você não tem como evitar”, replicou o Gato. “Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca”.
“Como sabe que eu sou louca?”, indagou Alice.
“Deve ser”, disse o Gato, “ou não teria vindo aqui”.

Lewis Carroll, em Alice no País das Maravilhas.

Alguém libertou todos os insanos do Asilo Arkham. Agora, libertos, todos esses doentios personagens provocam um show de horrores dentro do manicômio. Para cessar com a anarquia, o Coringa exige a presença do Batman no local, para que possa convencer o Morcego, de uma vez por todas, que ele não é diferente dos demais. A loucura e a insanidade estão presentes na mente do Cavaleiro das Trevas. Será que o lugar do Batman é junto dos demais malucos da cidade? Seria o Asilo Arkham o verdadeiro lar do Morcego? Essa história aprofunda em conceitos e ideias não aproveitadas, indo fundo na psiquê do personagem, e de seu núcleo narrativo.

Algo genial que Morrison introduz na história, é a personalidade do Coringa. Já perceberam, que nos muitos anos de publicação da DC Comics, o Coringa foi retratado com diferentes personalidades? Não só nos quadrinhos, em outras mídias, como cinema e televisão, podemos ver essa nítida diferença em algumas abordagens. Nas publicações da editora, o Coringa da Era de Ouro é diferente do da Era de Prata, que é diferente do da Era de Bronze, que é diferente do Coringa atual. Durante os anos 50, um código de censura foi instaurado nos quadrinhos, proibindo que os mesmo fossem violentos, e não-educativos. Conclusão, as histórias se tornaram mais infantis. Apenas entre o início e meados dos anos 70, essa censura foi por água abaixo.

Morrison, na história, explica de uma maneira magistral, com um único diálogo, porque o personagem que hora foi um palhaço brincalhão, outrora estava baleando e estuprando a Batgirl (sim, essa é a minha interpretação de A Piada Mortal), pode conter essas múltiplas personalidades (embora muito do pré-Crise tenha sido descartado).

“Diferente de mim ou de você, o Coringa não parece ter controle sobre as informações sensoriais que recebe do mundo externo. Sua mente pode lidar com a barragem caótica de estímulos deixando-se levar pelo fluxo. Por isso, em alguns dias ele é um palhaço infantil e, em outros, um psicopata assassino. O Coringa não tem uma personalidade verdadeira.”

A trama se baseia em um tuor pelo manicômio, mostrando vários outros vilões clássicos do Batman, como Duas-Caras, Crocodilo, Chapeleiro Louco, etc. O quadrinho também faz uma homenagem à grande obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, não só nas frases escolhidas por Morrison e colocadas nas páginas inicial e final da obra. A trama também lembra um pouco a história de Alice, visto que a personagem passa por um eventual passeio em um mundo permeado por personagens loucos, se perguntando a todo momento se ela pertence ou não àquele lugar.

Além do chamado do Coringa, existe outra razão para o Morcego estar ali. A pessoa responsável por toda essa confusão, indiretamente, quis a presença do Batman. Morcegos… Tudo culpa dos morcegos!

Na história ainda temos a oportunidade de conferir, paralelamente, a jornada de Amadeus Arkham, o fundador do manicômio. Somos apresentados à sua pessoa, seus pensamentos e traumas, além de conhecermos como ele virou um próprio residente do Asilo. Sua loucura foi impulsionada por terríveis acontecimentos. Asilo Arkham é uma pequena história, com uma grande genialidade. Quer ter uma leitura totalmente maluca, perturbadora e divertida ao mesmo tempo? Esse quadrinho do Batman é ideal, com toda certeza da mundo!

Asilo Arkham: Uma Séria Casa em um Sério Mundo (Batman: Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth – EUA – 1989, DC Comics). Roteiro: Grant Morrison. Arte, arte-final e cores: Dave McKean.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!